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Politica

Lava Jato quer ouvir Odebrecht sobre venda da Triunfo e trama para impedir I

Correio Braziliense
postado em 08/01/2020 11:08
A força-tarefa da Operação Lava Jato quer ouvir Marcelo Odebrecht e outros dois ex-executivos da empreiteira sobre a venda da Petroquímica Triunfo, da Petrobras, para a Braskem. Os investigadores identificaram e-mails considerados suspeitos em que os empresários dizem ter acionado parlamentares aliados para barrar, na I da Petrobras, o depoimento de um executivo que denunciou supostas irregularidades na negociação. As mensagens citam inclusive que o ex-senador Romero Jucá (MDB), então relator da I, teria confirmado que não chamaria o empresário rival. Em 2018, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que um laudo da Polícia Federal no Paraná apontou que o acordo gerou prejuízo de até R$ 191 milhões aos cofres da Petrobras. A investigação se iniciou após representação da família Gorentzvaig, dona da Petroplastic, que era sócia da Petroquisa - subsidiária da Petrobras, na Triunfo. Eles afirmam ter feito uma proposta de R$ 350 milhões pela aquisição da Triunfo, que foi rejeitada pela Petroquisa. A subsidiária, então, aceitou uma oferta de R$ 117 milhões da Braskem. À época, Paulo Roberto Costa - ex-diretor de Abastecimento da estatal petrolífera -, primeiro delator da Operação Lava Jato, era diretor da Petroquisa e integrou a negociação. A Petroplastic o acusa de favorecer a Odebrecht. Costa, que confessou ter recebido US$ 32,5 milhões em propinas da empreiteira, afirmou, por outro lado, não ter conhecimento de irregularidades na aquisição da Triunfo pela Braskem. Sobre o negócio, os procuradores destacam que a PF conclui que "há inegável discussão sobre os métodos e parâmetros empregados para a avaliação do valor da Petroquímica Triunfo; todavia, entende que eventual subavaliação dos ativos públicos - dado que a Petrobras tinha o controle majoritário da Triunfo -, por si só, não encontra correspondência em nenhum tipo penal previsto em nosso ordenamento". No entanto, as investigações não foram concluídas. A força-tarefa quer mais diligências para verificar se há indícios de crimes na transação. Em meio ao inquérito, os investigadores aram a analisar os e-mails fornecidos por Marcelo Odebrecht em sua delação premiada, e entenderam haver "conversas suspeitas". Nas mensagens, os investigadores encontraram tentativas de barrar depoimentos do empresário Boris Gorentzvaig na I da Petrobras, em 2009. De acordo com os procuradores, em julho de 2009, o executivo Marcos Wilson escreveu a Marcelo: "Marcelo e Nelson: a I vai dar um palco para Boris Gorentzvaig. Ele, claro, deve aproveitar a grande chance de fazer denúncias que irão desde 'conluio Petrobras/Braskem' até ataques pessoais ao Dr. Emílio, no estilo do publicado pelo Estadão há uns dois anos". "Precisamos ficar atentos em Brasília e termos um plano sinérgico (Braskem e Odebrecht) para contrabalançar o depoimento. Conversemos sobre assim que vocês puderem", completou. Marcelo, então, respondeu: "Para nossa conversa sobre I veja quem pediu o requerimento do Boris". No mesmo dia, o executivo Claudio Melo Filho enviou um e-mail a Marcelo afirmando que, "para variar, o requerimento do Boris foi apresentado pelo Senador Álvaro Dias". "Ou seja: único que não temos o. Vamos falar", disse Marcelo, em resposta. Em agosto, José Carvalho Filho, também executivo da Odebrecht, e, hoje, delator, afirmou a Marcelo e outros colegas do alto escalão da empreiteira que "esteve com o relator, confirmou a posição de não convocar as construtoras, nem o Boris". À época, o relator da I era o senador Romero Jucá (MDB). Atualmente, o emedebista responde a ação penal por suposta propina de R$ 150 mil para atuar em favor da Odebrecht na tramitação das Medidas Provisórias 651/2014, conhecida como "Pacote de Bondades", e da 656/2014, que trata da redução para zero da alíquota de PIS e Cofins. Ao todo, executivos da empreiteira narram rees de R$ 5 milhões ao político. Ele chegou a ser alvo da Operação Armistício, em novembro de 2018, que mirava pagamentos da Odebrecht a Jucá em troca de supostos benefícios à Braskem. Jucá, no entanto, não foi delatado neste negócio específico envolvendo a Triunfo. A PF quer ouvir Marcelo, Claudio Mello, José Carvalho Filho e Marcos Wilson, da empreiteira, a respeito dos fatos investigados. Também pediu o aos sistemas de propinas e contabilidade paralela da empreiteira para identificar supostos pagamentos a relacionados à incorporação da Triunfo pela Braskem. O pedido foi feito no fim de novembro, e ainda não foi apreciado pela Justiça Federal no Paraná. Como Boris Gorentzvag faleceu, seu filho, Auro, continua peticionando nas investigações. Ele reiterou as denúncias feitas pelo pai e acusa o favorecimento da Braskem na transação. Em 2015, com a Lava Jato nas ruas, uma nova I da Petrobras foi instaurada no Congresso. Desta vez, o empresário Auro Gorentzvaig afirmou que sua empresa foi "expropriada" pela estatal para que a Braskem, subsidiária da Odebrecht, fosse beneficiada. Ele chegou a acusar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de agir para promover o monopólio no mercado. "A família Odebrecht é dona do Brasil", declarou. Os irmãos Caio e Auro reiteram a afirmação no inquérito. Em depoimento à PF, em 2015, Caio Gorentzvaig afirmou à PF acreditar no acerto de Lula com a empreiteira porque, em 2002, "ao se lançar candidato à Presidência da República, conheceu Emílio Odebrecht, tendo ocorrido um acerto entre os últimos no sentido de que a Odebrecht iria assumir os gastos de campanha de Lula, demandando em contrapartida que a empresa assumisse o controle do setor petroquímico do país". Defesas Procurada pela reportagem, a defesa do ex-presidente Lula não se manifestou. A Odebrecht disse que não iria comentar. Romero Jucá disse: "desconheço esse assunto da Triunfo". O espaço está aberto para manifestações.

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