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O modelo, entretanto, divide opiniões entre a comunidade escolar, especialistas em educação e governantes.</p> <p class="texto">O Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), por exemplo, manifesta contrariedade desde o começo da implantação, em fevereiro de 2019. "Para atuar na escola, são necessários conhecimentos, experiências e competências das quais os policiais militares não dispõem. Estamos ansiosos pelo fim desse projeto, em defesa da gestão democrática e da educação pública", declarou o sindicato, por meio de seu site oficial. </p> <p class="texto">O governo federal, no mandato anterior, apoiou e incentivou a militarização de escolas. Agora, a questão toma outro rumo. No primeiro dia como presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) extinguiu a diretoria de escolas cívico-militares do Ministério da Educação (MEC). O ministro, Camilo Santana, afirmou que o futuro do projeto será definido até 24 de janeiro. A pasta não diz, no entanto, se manterá as unidades já criadas e que receberam recursos federais ou esperam por eles. "Com cada secretário assumindo suas pastas, vamos avaliar, porque toda política pública precisa ser avaliada", divulgou o ministro.</p> <p class="texto">Procurada pelo Correio, a Secretaria de Educação avaliou de forma positiva as mudanças observadas desde a implantação da medida e informou que há uma "ampla aceitação" dos pais, responsáveis e professores, com "filas grandes" para conseguir vagas nas escolas que adotam o modelo. Segundo a pasta, "o programa será mantido e o número de escolas será ampliado. É um modelo alternativo às mais de 650 escolas públicas do DF, para as unidades escolares que assim desejarem". A nota diz, ainda, que a ampliação "está prevista no plano de governo do DF para os próximos quatro anos".</p> <p class="texto">Segurança</p> <p class="texto">Maria José Brito dos Santos, 61, é avó de uma aluna de 16 anos do Centro Educacional 01 da Estrutural, escola de gestão compartilhada com a SSP. Para ela, a proposta é positiva. "Antigamente, tinha briga demais entre os alunos, era direto. Agora, com os militares, ficou mais calmo. Também ou a ter maior aproximação da escola com os pais e responsáveis, além de ter melhorado a qualidade de ensino", comemora a dona de casa.</p> <p class="texto">Toshiro Yamaguti, diretor do CEF 19 de Taguatinga. relata que a experiência tem sido boa e que a decisão de aderir à gestão compartilhada com a SSP foi tomada por mais 80% da comunidade escolar, o que inclui pais, professores e demais funcionários da instituição.</p> <p class="texto">No CEF 19, a parceria, firmada em 2019, é com o Corpo de Bombeiros (CBMDF), que fica responsável pela parte disciplinar, como o controle de entrada e saída de alunos, a verificação se eles estão dentro de sala, respeito e alinhamento do uniforme. Não há interferência no conteúdo pedagógico. "Tivemos em 2021 o primeiro ano completo com os bombeiros na escola, por causa da pandemia, e percebemos uma otimização do tempo em sala de aula e que a média de notas aumentou", conta o diretor, que também destaca que muitos militares têm formação na área da educação. "A maioria está satisfeita", celebra. Os estudantes têm tido saída de campo com os militares e muitos aram a se identificar com a profissão, de acordo com o pedagogo. "O entorno da escola também ficou mais seguro. Até o comércio relata uma melhoria", conclui.</p> <p class="texto">Críticas</p> <p class="texto">Apesar da aceitação da comunidade escolar, especialistas com quem o Correio conversou avaliam negativamente essa política para a educação pública. Luciano Blasius, coordenador do departamento de pedagogia da Universidade Católica de Brasília (UCB), sustenta que a medida, adotada como solução para a violência nas escolas, é imediatista e necessita ser revisada. "O que se precisa é valorizar a escola na sua essência, desde a estrutura até a formação docente", explica ele, que também é policial da reserva do Paraná.</p> <p class="texto">Luciano também comenta a falta de preparo dos militares selecionados. "Em geral, eles não têm preparo técnico e social para estar em um ambiente escolar. É necessário o conhecimento amplo sobre desenvolvimento humano. É na adolescência que são formadas as personalidades social e cidadã do indivíduo", analisa.</p> <p class="texto">No Centro Educacional (CED) 7 de Ceilândia a gestão é compartilhada com a Polícia Militar (PMDF). Joana Darc do Carmo Alves Cruz tem a visão tanto de professora quanto de mãe de aluno da instituição, que aderiu ao programa no início de 2019, ano que ela decidiu tirar o filho desta e escola. "Eles eram muito mais rigorosos com o meu filho, que é negro. Eu reclamei ao capitão que ele estava sendo discriminado, mas nada mudou. Isso começou a mexer com a autoestima dele e decidi tirá-lo de lá", lembra a docente.</p> <p class="texto">O rigor com o qual os militares tratam os alunos é a principal insatisfação de Joana. "Quando chegam atrasados no primeiro horário, são obrigados a marchar até chegar o segundo tempo", relata. Ela conta que testemunhou a busca ativa de alunos na casa deles com viatura da PM. O temor de Joana Darc é que haja uma maior evasão escolar.</p> <p class="texto">Estudioso da militarização da política e professor do Instituto de Ciência Política (Ipol) da Universidade de Brasília (UnB) Rodrigo Lentz alerta para o mito de que essas escolas tenham melhores resultados porque são militarizadas, argumento que justificaria o programa. "Isso ocorre porque elas recebem mais recursos. 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Militarização volta ao debate nas escolas do Distrito Federal 6b632

Jornal Correio Braziliense 5i5e17

Educação

Militarização volta ao debate nas escolas do Distrito Federal 3v1mp

Medida implantada na rede pública de ensino do DF com foco na segurança nas escolas, o Programa de Gestão Compartilhada contempla 17 unidades — 13 com a SSP e quatro com o governo federal. Ministério da Educação reavalia o modelo 4a715n

Desde o primeiro mandato do governador agora afastado Ibaneis Rocha, a gestão de algumas unidades de ensino públicas ou a ser compartilhada entre as secretarias de Educação (SEEDF) e de Segurança Pública (SSP), com militares atuando em seus quadros. Atualmente, são 17 unidades no total. Destas, quatro funcionam por meio de parceria com o Ministério da Educação (MEC). O modelo, entretanto, divide opiniões entre a comunidade escolar, especialistas em educação e governantes.

O Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), por exemplo, manifesta contrariedade desde o começo da implantação, em fevereiro de 2019. "Para atuar na escola, são necessários conhecimentos, experiências e competências das quais os policiais militares não dispõem. Estamos ansiosos pelo fim desse projeto, em defesa da gestão democrática e da educação pública", declarou o sindicato, por meio de seu site oficial. 

O governo federal, no mandato anterior, apoiou e incentivou a militarização de escolas. Agora, a questão toma outro rumo. No primeiro dia como presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) extinguiu a diretoria de escolas cívico-militares do Ministério da Educação (MEC). O ministro, Camilo Santana, afirmou que o futuro do projeto será definido até 24 de janeiro. A pasta não diz, no entanto, se manterá as unidades já criadas e que receberam recursos federais ou esperam por eles. "Com cada secretário assumindo suas pastas, vamos avaliar, porque toda política pública precisa ser avaliada", divulgou o ministro.

Procurada pelo Correio, a Secretaria de Educação avaliou de forma positiva as mudanças observadas desde a implantação da medida e informou que há uma "ampla aceitação" dos pais, responsáveis e professores, com "filas grandes" para conseguir vagas nas escolas que adotam o modelo. Segundo a pasta, "o programa será mantido e o número de escolas será ampliado. É um modelo alternativo às mais de 650 escolas públicas do DF, para as unidades escolares que assim desejarem". A nota diz, ainda, que a ampliação "está prevista no plano de governo do DF para os próximos quatro anos".

Segurança

Maria José Brito dos Santos, 61, é avó de uma aluna de 16 anos do Centro Educacional 01 da Estrutural, escola de gestão compartilhada com a SSP. Para ela, a proposta é positiva. "Antigamente, tinha briga demais entre os alunos, era direto. Agora, com os militares, ficou mais calmo. Também ou a ter maior aproximação da escola com os pais e responsáveis, além de ter melhorado a qualidade de ensino", comemora a dona de casa.

Toshiro Yamaguti, diretor do CEF 19 de Taguatinga. relata que a experiência tem sido boa e que a decisão de aderir à gestão compartilhada com a SSP foi tomada por mais 80% da comunidade escolar, o que inclui pais, professores e demais funcionários da instituição.

No CEF 19, a parceria, firmada em 2019, é com o Corpo de Bombeiros (CBMDF), que fica responsável pela parte disciplinar, como o controle de entrada e saída de alunos, a verificação se eles estão dentro de sala, respeito e alinhamento do uniforme. Não há interferência no conteúdo pedagógico. "Tivemos em 2021 o primeiro ano completo com os bombeiros na escola, por causa da pandemia, e percebemos uma otimização do tempo em sala de aula e que a média de notas aumentou", conta o diretor, que também destaca que muitos militares têm formação na área da educação. "A maioria está satisfeita", celebra. Os estudantes têm tido saída de campo com os militares e muitos aram a se identificar com a profissão, de acordo com o pedagogo. "O entorno da escola também ficou mais seguro. Até o comércio relata uma melhoria", conclui.

Críticas

Apesar da aceitação da comunidade escolar, especialistas com quem o Correio conversou avaliam negativamente essa política para a educação pública. Luciano Blasius, coordenador do departamento de pedagogia da Universidade Católica de Brasília (UCB), sustenta que a medida, adotada como solução para a violência nas escolas, é imediatista e necessita ser revisada. "O que se precisa é valorizar a escola na sua essência, desde a estrutura até a formação docente", explica ele, que também é policial da reserva do Paraná.

Luciano também comenta a falta de preparo dos militares selecionados. "Em geral, eles não têm preparo técnico e social para estar em um ambiente escolar. É necessário o conhecimento amplo sobre desenvolvimento humano. É na adolescência que são formadas as personalidades social e cidadã do indivíduo", analisa.

No Centro Educacional (CED) 7 de Ceilândia a gestão é compartilhada com a Polícia Militar (PMDF). Joana Darc do Carmo Alves Cruz tem a visão tanto de professora quanto de mãe de aluno da instituição, que aderiu ao programa no início de 2019, ano que ela decidiu tirar o filho desta e escola. "Eles eram muito mais rigorosos com o meu filho, que é negro. Eu reclamei ao capitão que ele estava sendo discriminado, mas nada mudou. Isso começou a mexer com a autoestima dele e decidi tirá-lo de lá", lembra a docente.

O rigor com o qual os militares tratam os alunos é a principal insatisfação de Joana. "Quando chegam atrasados no primeiro horário, são obrigados a marchar até chegar o segundo tempo", relata. Ela conta que testemunhou a busca ativa de alunos na casa deles com viatura da PM. O temor de Joana Darc é que haja uma maior evasão escolar.

Estudioso da militarização da política e professor do Instituto de Ciência Política (Ipol) da Universidade de Brasília (UnB) Rodrigo Lentz alerta para o mito de que essas escolas tenham melhores resultados porque são militarizadas, argumento que justificaria o programa. "Isso ocorre porque elas recebem mais recursos. Os institutos federais, por exemplo, que também recebem mais recursos, têm bons índices de aprovação nos vestibulares, baixos de violência e não precisam de militares lá dentro", afirma.

 

Tony Oliveira/Agencia Brasilia - Modelo cívico-militar de educação pública completa quatro anos com 17 escolas
Tony Oliveira/Agencia Brasilia - Modelo cívico-militar de educação pública completa três anos com 17 escolas Conceito adotado em 2019, a gestão compartilhada já é aplicada para mais de 15 mil alunos e conta com a participação de 140 militares atuando diretamente no projeto.
Renato Araujo / Agencia Brasilia - Mais de 22 mil alunos frequentam as escolas-cívico militares do DF
Tony Oliveira/Agência Brasília - Centro de Ensino Fundamental (CEF) 19 de Taguatinga.

Unidades com gestão compartilhada 5r4114

CED 3 de Sobradinho
CED 1 da Estrutural
CED 7 de Ceilândia
CED 308 do Recanto das Emas
CED Condomínio Estância III de Planaltina
CED 407 de Samambaia
CED 1 do Itapoã
CED 19 de Taguatinga
CEF 1 do Núcleo Bandeirante
CEF 1 do Riacho Fundo 2
CEF 1 do Paranoá
CED 2 de Brazlândia
CEF 01 do Lago Norte - Celan
CED 416 de Santa Maria
CEF 5 do Gama
CEF 507 de Samambaia
CEF 4 de Planaltina