
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Distrito Federal registrou cerca de 700 novos casos de câncer de mama entre 2020 e 2022. Para o triênio de 2023 a 2025, a projeção é de que 1 mil novos casos sejam diagnosticados na capital, o que reforça a necessidade de campanhas de conscientização sobre a doença, que é uma das principais causas de morte de mulheres no Brasil.
Na esteira das campanhas de combate ao câncer de mama, que se intensificam em outubro, o Correio Braziliense promove o seminário "Câncer de mama: uma rede de cuidados", amanhã, a partir das 14h30, com as presenças confirmadas da vice-governadora Celina Leão e da secretária de Saúde do DF, Lucilene Florêncio, além de especialistas no assunto. O encontro será transmitido ao vivo pelos perfis oficiais do jornal nas redes sociais — YouTube e Facebook.
Daniele Xavier Assad, membro do Comitê de Tumores Mamários da Sociedade Brasileira de Oncologia (Sboc), explica que o aumento de casos pode ser explicado tanto pelo maior número de detecções da doença, quanto por fatores como envelhecimento da população, estilo de vida, sedentário e obesidade, além de fatores de risco.
Por muito tempo, o auto exame do toque, em que mulheres apalpam os próprios seios a fim de identificar algum caroço na região, foi incentivado em campanhas de conscientização. No entanto, a estratégia recomendada por especialistas agora é outra.
"É preciso fazer o diagnóstico quando a doença ainda está invisível, o que é possível com a mamografia. Se o caroço já está palpável, o tratamento será mais agressivo e com menos chances de cura", alerta a oncologista.
A Sboc recomenda que mulheres a partir dos 40 anos, mesmo sem histórico de câncer na família, em a fazer a mamografia anualmente.
Assad conta que há formas de prevenir o surgimento da doença adotando hábitos saudáveis. "Para as pessoas que acabaram de receber o diagnóstico, eu falo para terem calma. O câncer de mama não é uma doença só — cada tipo vai demandar um tratamento específico, que será definido por uma equipe multidisciplinar", explica Daniele. Ela lembra que a quimioterapia está sendo cada vez menos necessária, por conta da crescente conscientização por causa do diagnóstico precoce, e os avanços da medicina na área.
Tratamento
A moradora de Valparaíso (GO) Janete Pereira da Costa, 56 anos, foi diagnosticada com câncer de mama em junho deste ano. Ela conta que sempre fazia o autoexame, quando sentiu um caroço no seio esquerdo. Foram dois anos até finalmente fazer a mamografia e receber o diagnóstico. "Como doía, eu confiava na história de que o câncer não dói e no fato de não ter histórico na minha família." Havia vezes que a massagista tomava paracetamol e ibuprofeno para aplacar as dores. Quando descobriu a enfermidade, o tumor já media 10 centímetros.
Janete a por sessões de quimioterapia uma vez ao mês, até fevereiro de 2024, mas revela que não tem sofrido com efeitos colaterais, exceto pela queda de cabelos e as unhas escurecidas. "Para quem desconfia que tem algo de errado com o corpo, eu diria para correr atrás para descobrir o que é. O corpo dá sinais. Fui muito displicente com os sintomas", lamenta Costa. "Se notar algo, procure um médico. Tive a sorte do câncer não ter se espalhado. Para quem foi diagnosticado, falo para não ter medo e ter força. É um tratamento longo, mas é necessário. Tem que fazer", conclui.
Elane Pires, 46, descobriu o câncer de mama em 2019 e fez a remoção das duas mamas em outubro do mesmo ano. No mesmo procedimento cirúrgico, foram colocadas próteses mamárias. Deu continuidade ao tratamento no ano seguinte e desde 2021 é submetida a imunoterapia, tratamento mais leve, com ingestão de medicamentos. "Eu sempre pratiquei corrida, esporte que o médico me falou que só pararia se eu quisesse, o que me deu uma visão diferente sobre o tratamento. E continuei", relata a servidora pública moradora de Taguatinga.
"Além da questão de saúde, a mastectomia afeta a nossa feminilidade e, em muitos casos, a maternidade. Tive todas essas sensações ruins, mas fui aprendendo a lidar com isso, que preciso estar bem e viva. Ficam as cicatrizes e precisei mudar a forma de olhar o meu corpo, aceitar o que aconteceu. Sinto-me feminina, reconheço o processo pelo qual ei e sinto orgulho das marcas que tenho hoje", revela.
Elane, que hoje faz parte da Canomama, associação de mulheres que foram diagnosticadas com a doença em tratamento ou não, que praticam a canoagem juntas, fala da importância da rede de apoio no enfrentamento à doença.
A analista de sistemas, Ana Bastos, 52 anos, costumava fazer exames anualmente. Com a chegada da pandemia em 2020, ela havia decidido não fazer naquele ano. "Surgiu um na outra mama. Fiquei assustada e resolvi fazer meus exames normalmente. Foi aí que a mamografia acusou um carcinoma in situ na outra mama. Não era possível identificá-lo por auto exame, nem foi exibido na ultrassonografia, só apareceu na mamografia", recorda. No mesmo ano, ela teve ar um por uma mastectomia total.
"Penso que é importante dizer que o diagnóstico não representa o fim da vida. Que quanto mais cedo detectar, mais leve o tratamento. Outra coisa fundamental ao longo de todo o tratamento foi manter atividades físicas. Mesmo no auge da quimioterapia, quando sentia-me mais debilitada, eu não deixava de fazer pelo menos caminhadas", revela Ana.
Saiba Mais
Fique atento aos sintomas
A oncologista Daniele Assad, da Sociedade Brasileira de Oncologia, aponta os principais sintomas do câncer de mama:
- Alterações na pele da mama
- Nódulos
- Alteração no tamanho da mama
- Alteração do mamilo