
Com o aumento no número de afogamentos no Lago Paranoá — entre os dias 19 e 26 de abril, foram seis afogamentos que resultaram em três mortes —, o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) incrementou a ronda de embarcações, especialmente em pontos críticos. Contudo, a ação não impediu, neste domingo (4/5), novo episódio, no chamado Piscinão do Lago Norte. Um jovem de 22 anos foi localizado a 20 metros da margem e a 3 metros de profundidade. Diante da parada cardiorrespiratória, foi necessária reanimação cardiopulmonar.
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Ainda longe de agosto e setembro, época mais movimentada para os banhistas do Lago Paranoá, com dias quentes e sem chuva, um cenário preocupa: houve aumento nos casos de afogamentos nos cinco postos mais populares — regiões da Ponte JK, Ermida, Praia dos Orixás, Deck Norte (Bragueto) e, ainda, prainha do Lago Norte. "Às vezes, a pessoa não sabe nadar. Não conhece o local, ou chega embriagado ou com uso de drogas. Em termos de equipamentos, nas práticas esportivas na água, só terá risco, se a pessoa tirar o colete salva-vidas", observa Marcos André Oliveira, há 15 anos envolvido com aluguel de aparatos para stand up paddle (SUP), caiaque, remo olímpico e eio em pedalinho.
Marcos André conta que já presenciou alguns afogamentos. "Já salvei pessoas, aqui. Uma vez, um rapaz estava afundando; ei na embarcação, e consegui puxar ele pela mão", relembra. Em disparado, a má combinação entre bebida e natação responde por maiores incidentes. "Aqui é diferente de piscina, tem que haver um mínimo de capacidade de natação. Fazer mergulho e esportes, de modo consciente, é vital. As pessoas não devem tentar atravessar o lago. A natação deve ser em paralelo à margem. É preciso atentar para a sinalização e ter por perto uma boia ou flutuador. A mistura de bebida alcoólica com a entrada no Lago é o fator de maiores problemas. Evitar deixar crianças sem supervisão é algo a se atentar. Segundos e minutos podem ser bem perigosos", pontua o sargento Jean Costa.
As rondas das embarcações dos bombeiros, com jetski e flex boat, antes, eventuais, ganharam caráter obrigatório, por parte do grupo de militares voluntários destacados em cada escala. Mais profundo, logo na margem, o lago pode ser traiçoeiro: há pontos com 20 metros de altura. Com recentes três afogamentos na JK, os bombeiros reforçam a necessidade do público ficar atento à ligação para o 193, à vista de algum afogamento. Pela área extensa, por vezes, há dificuldades na detecção de todo e qualquer incidente.
Na região mais crítica da Ponte JK, todo cuidado revela-se pequeno. "Com uso de bebida alcoólica, pessoas criam coragem, e tentam chegar àquela ilha (a 20 metros da margem do Paranoá); mas, no meio do trajeto, a água não dá pé. Abruptamente, vai de dois metros para oito, nove metros. Ali acontece a maior parte dos afogamentos da JK", comenta o sargento Gabriel Costa. Com muita gente circulando, e a área ampla, outro cuidado fundamental é reiterado por Jean Costa: "Pessoas sem técnicas de salvamento devem ter atenção para não gerar um segundo afogado. No desespero, quem está se afogando pode afogar quem tenta ajudar. O ideal é oferecer algo para que o afogado se segure".
A utilização de flutuabilidade, com improvisos e material impróprio, gera risco. "Pessoas usam boias feitas pela própria família, como um colchão inflável, que não é feito para se colocar na água", sublinha o sargento Gabriel Costa. "O que não é raro, no nosso serviço, é o trabalho de prevenção: a pessoa nada para longe, apitamos. No que percebemos falta de perícia ou dificuldades do nadador, vamos sempre socorrer, precedendo qualquer possibilidade de afogamento", avalia o subtenente R. Ricardo.
Depois de eios de lancha, na Tailândia, e de escuna, em Morro de São Paulo, a corretora de imóveis Marilena Dalledone arriscou a ida ao Paranoá, para uma incursão em caiaque, junto com a filha Laísa, a, e o esposo, radialista, Fausto. "Em qualquer aventura aquática, o fundamental é o colete. Acho que aqui, no Lago, a fiscalização não é constante, nos eios de barco. Aliás, já deixei de ir num, por não me sentir segura. Acho que falta vigilância quanto ao uso de bebida para quem está pilotando embarcação. Já tive aulas de remo, há cinco anos, e mesmo com o cercado, jet sky e lanchas ando, causavam muita instabilidade: ondulava tudo. Por isso, sempre uso colete. Nas fotos de família, estou em todas, com ele", diz Marilena, que veio de Vicente Pires para a diversão dominical.
Pouco antes do horário mais crítico para os afogamentos, entre 13h30 e 15h, a família de Lucas Vinícius, 27 anos, e Michelle de Almeida, 24, estava bem resguardada pelos olhares cuidadosos de ambos. Cada movimento de Vitória, 4, Pietro, 8, e Gael Vinícius, cinco meses, era monitorado pela agente de portaria e pelo tosador em pet shop, vindos de Santa Maria. "Viemos, agora, pela primeira vez, depois de estar em cachoeiras e piscinas. Já tivemos um princípio de afogamento num tobogã da Cidade Ocidental, e a Vitória criou até meio que trauma, ela não avança na água, fica só margeando", comentou Lucas. "Não descuido, nem mesmo de longe: presto extrema atenção para não confundir eles com outras crianças, e fico completamente atenta", completou Michelle.
Quase 20 anos depois de aventurar-se pelo Paranoá, à altura da Ermida Dom Bosco, na época da juventude, o sushiman Rafael Santos, 38, veio para o lazer na Ponte JK, trazendo o filho Hugo, de São Sebastião. "Tenho agora uma rotina diferenciada. O Hugo fica no parquinho; ele adora banho, mas não deixo ele desgrudar. Hoje, prefiro ficar mais na beirada do Lago. Não me aventuro mais para o fundo. No ensino fundamental, um colega de sala, morreu afogado. Convivo com o Lago com mais atenção", conclui.