
Uma ferramenta de inclusão social. É assim que Júnior Pereira, presidente da União Junina-DFE define o circuito de quadrilhas juninas que movimenta o Distrito Federal e aproxima as pessoas. Ele foi o convidado do Podcast do Correio, quando bateu um longo papo com os jornalistas José Carlos Vieira e Mariana Saraiva.
Para Junior, o movimento junino é uma ferramenta de inclusão social, que ajuda as pessoas a se desenvolverem e a encontrarem novos caminhos para a vida. "A gente recebe jovens machucados e adultos retraídos por conta de traumas vividos. Trabalhar com essas pessoas envolve uma assistência social, que muitas vezes não é enxergada. Não é apenas dançar quadrilha junina, vai além, e é isso que me move", conta.
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Qual a importância do movimento junino para a economia do DF?
A importância é enorme. Muitas vezes, não temos noção da cadeia produtiva por trás do movimento junino. Tem costureiras, serralheiros, marceneiros, músicos. É toda uma estrutura. Isso gera renda, é meio de sobrevivência e de conquista para muita gente. Existe uma equipe grande trabalhando nos bastidores, que raramente é vista.
As quadrilhas juninas movimentam o comércio local?
Sim, e muito! Os comerciantes ficam animados nesse período porque os integrantes das quadrilhas vão em busca de novidades, roupas, materiais. Só em Brasília, temos cerca de 70 grupos legalizados, vinculados a instituições. Isso sem contar os grupos que se apresentam em igrejas, escolas públicas e particulares. É muita gente envolvida.
Quantas quadrilhas estão vinculadas à União Junina?
Atualmente, a União Junina tem 18 grupos filiados. Cada um conta com, em média, de 40 a 60 dançarinos, sem contar as equipes que trabalham por trás, organizando tudo.
Os jovens estão cada vez mais interessados em dançar quadrilha?
Com certeza. Eles são o futuro. As crianças e os jovens são os que vão manter essa tradição viva. A quadrilha acolhe a todos, independentemente de quem sejam: estudantes, pessoas em situação de vulnerabilidade, é um espaço de inclusão e diversidade.
Pessoas mais velhas também participam?
Sim, e é lindo de ver. Nosso trabalho tem um lado psicológico também. Tenho pessoas com mais de 60 anos dançando comigo. Muitas estavam isoladas, presas em seus próprios problemas, e hoje se redescobriram na dança. Quando entram na quadrilha, parecem jovens novamente, se divertem, se libertam.
Como as quadrilhas juninas ajudam a resgatar jovens?
Temos histórias emocionantes. Um garoto chegou até nós envolvido em situações complicadas. Me aproximei, conversei, ganhei a confiança dele e expliquei como funcionava o grupo, com respeito, carinho, amor e amizade. Ele mudou completamente. Hoje, tem uma linda família e não seguiu por caminhos ruins. Nosso maior objetivo é acolher.
As crianças também participam?
Claro. O mais novinho do meu grupo tem sete anos. Começou com seis, no ano ado. É um espetáculo vê-lo dançar. Apelidei ele de "Pouca Sombra", porque é pequenininho. Mas ele dança com uma paixão impressionante, está no sangue dele, no DNA. Onde ele se apresenta, as pessoas querem tirar foto, conversar, abraçar. Parece até um artista, de tanto carisma.
Como está a expectativa para o início do circuito?
A expectativa está lá em cima! Os grupos estão animados, todo mundo se preparando e dando o seu melhor. É algo que exige muita dedicação, porque é cansativo, especialmente para quem precisa conciliar com trabalho e estudos. Essa galera precisa ter muito jogo de cintura para conseguir se entregar nas apresentações. Está todo mundo muito empolgado. E é bonito ver o envolvimento das famílias: os pais incentivam, acompanham de perto e torcem muito pelos filhos.
Como você entrou no movimento junino?
Minha história com as quadrilhas começou quando eu tinha 17 anos. Cheguei para morar em Samambaia em 1989, vindo do Piauí com a minha família. Na época, a cidade ainda estava em construção, não tinha praticamente nada, só muita terra vermelha. Eu e três amigos decidimos montar uma quadrilha para animar a comunidade, já que tudo era muito novo e carente de lazer. Aos poucos, começamos a nos apresentar em inaugurações de sorveterias, supermercados e outros comércios da cidade. O pessoal nos chamava e a gente ia dançar, levar alegria para o povo.