
Autoridades políticas e especialistas em segurança concordam com a transferência do traficante Marcos Roberto de Almeida, o Tuta — apontado como líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) —, para a Penitenciária Federal em Brasília (PFBRA). A chegada do sucessor de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, à capital não gerou alarde nas forças de segurança, que afirmam manter o monitoramento contínuo. Mas, as equipes acompanham a possível migração de aliados e familiares do criminoso para áreas próximas ou municípios goianos. Fontes policiais ouvidas pelo Correio apontam para a necessidade de reforço no efetivo de policiamento em São Sebastião, região que comporta tanto a Penitenciária Federal quanto o Complexo Penitenciário da Papuda.
Tuta foi preso na sexta-feira, na Bolívia, ao apresentar documento falso. Policiais bolivianos o identificaram e o prenderam. Após negociação entre a polícia brasileira e da Bolívia, o traficante foi "entregue" ao Brasil no Mato Grosso do Sul. Sob forte esquema de segurança, Tuta chegou à capital e deu entrada na PFBRA, onde estão lotados outros 72 criminosos de alta periculosidade, incluindo Marcola e parte da cúpula da facção paulista.
Dos cinco presídios federais de segurança máxima, decidiu-se por Brasília. Para além do esquema de vigilância avançado e dos nove metros de muralha, a escolha é debatida por estudiosos. Leonardo Sant'Anna, especialista em segurança internacional, ressalta alguns pontos levados em consideração na hora de o governo "bater o martelo". "Pouco se tem registros de fuga de presos em presídios do DF. O segundo ponto é a força da inteligência da Polícia Civil e de outros órgãos que fazem parte desse conjunto. Em Brasília, não temos um histórico de fortalecimento de facções e há a ausência ou casos mínimos de corrupção entre os agentes de segurança", descreve.
Wellington Caixeta, professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em segurança pública, explica que não há o que se falar do ponto de vista operacional e logístico das instituições envolvidas na transferência do preso. Nesse sentido, ele acredita que foi a melhor estratégia. "Mantê-los próximos (Tuta e Marcola), pode transmitir uma sensação de maior controle e segurança pela política Penitenciária Federal, porém, vale lembrar que, pelo Regime Disciplinar Diferenciado, de tempo em tempo, ocorre a transferência de líderes de facção entre as unidades do SPF, em uma espécie de rodízio, e, obviamente, uma circularidade de informações, pessoas e coisas simbólicas de interesse da facção. Fato é que, neste momento, Brasília permanece no centro das atenções do PCC e demais facções."
Bastidores
Alberto Fraga, deputado federal (PL) e líder da chamada bancada da bala, considerou a escolha por Brasília positiva e elogiou o trabalho das forças de segurança. "O presídio federal cumpre com a obrigação de isolar os presos, especialmente os grandes líderes de facções, de forma correta. Não há o que se comparar com os estaduais." Quanto ao serviço policial, Fraga afirma que a polícia do DF é bem preparada em situações como essas. "É uma polícia com alto grau de elucidação em crimes complexos."
O presidente da Câmara Legislativa do DF (CLDF), Wellington Luiz (MDB), afirma que, apesar do alto grau de segurança na capital, há de se afirmar que a situação é sensível e informou que a CLDF acompanhará de perto todas as movimentações e solicitará ao governo federal e do DF o reforço nos cuidados, como investimento de pessoal e tecnológico. "É uma situação que impõe a condição de alerta, pois você atrai mais pessoas, principalmente os aliados a esses criminosos, para a cidade. Por outro lado, sabemos que a o DF tem uma estrutura de presídio adequada para esse tipo de prisão. Desde já, reforço o nosso cuidado com a população", enfatizou.
Fontes policiais ouvidas pela reportagem retratam uma certa preocupação quanto à segurança na região de São Sebastião, que conta com pouco mais de 119 mil moradores. Em 2023, equipes da inteligência da Polícia Penal Federal descobriram que dois homens haviam alugado um imóvel em Brasília e estariam planejando cavar um túnel até a Penitenciária Federal. Os dois foram detidos. Na avaliação dos policiais, deve-se aumentar o efetivo na delegacia da área — especialmente no período noturno e aos finais de semana — e criar um procedimento específico para grandes "ataques", além de armamento reforçado.
Ao Correio, o delegado Leonardo de Castro, coordenador do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor), informou que, em casos de transferências de membros de organizações criminosas, os investigadores ficam alertas para verificar se há alguma movimentação relacionada a isso nas investigações. "O monitoramento é permanente por parte da DRACO, porém quando ocorre esse tipo de transferência, os policiais reforçam a atenção no sentido de detectar qualquer repercussão dessa movimentação nas ações da facção", finalizou.
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