
Você já parou para pensar no caminho que o leite percorre até chegar ao seu copo? Para além das máquinas e tanques das grandes indústrias, o processo começa no campo — e, nele, o bem-estar das vacas leiteiras pode ser decisivo para a qualidade do produto final. Foi o que descobriram estudantes do curso de medicina veterinária do Centro Universitário de Brasília (CEUB), em uma pesquisa que associa o tratamento dado aos animais à qualidade do leite produzido.
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Segundo o estudo, práticas como alimentação adequada, prevenção de doenças, ambiente confortável e tratamento humanizado não apenas respeitam os direitos dos animais, como também resultam em um leite mais saudável e nutritivo. “Um animal saudável, bem alimentado, com o à sombra, água e ambiente tranquilo, produz melhor, o que beneficia o produtor, o consumidor e, principalmente, o próprio animal”, explicam as autoras da pesquisa: Ana Carolina Viana da Cruz, Carla Amanajás Scapin, Rani Guerra Schmaltz e Lorena Fernandes Veloso.
"Nossa pesquisa teve início em fevereiro deste ano, com uma etapa de aprofundamento teórico. Analisamos artigos, revistas científicas e estudos voltados ao bem-estar animal, investigando os principais métodos utilizados para promovê-lo, além da legislação vigente e dos mecanismos de fiscalização aplicados ao manejo nas propriedades rurais", disseram.
Para complementar, as estudantes realizaram duas visitas técnicas: uma à Fazenda Malunga, no Paranoá (DF), e outra à Fazenda VSB, em Luziânia (GO).
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Humanização no campo
Com o consumidor cada vez mais exigente e atento à origem dos alimentos, a preocupação com o bem-estar animal ganha espaço e se torna um diferencial. A professora Francislete Melo, docente do curso e orientadora do projeto, lembra que a produção industrializada de leite a por rigorosos controles. “Existe um processo técnico e legal que protege o consumidor e exige o respeito ao animal. Para quem ainda tem dúvida sobre o leite que compram, é importante saber que ele a por inspeções e segue normas específicas”, afirma.
O Brasil, um dos maiores produtores de leite do mundo, adota legislações como a Instrução Normativa nº 113/2020 do Ministério da Agricultura, que estabelece critérios de bem-estar para os animais. O país também segue os princípios internacionais das “Cinco Liberdades”, que garantem que os animais estejam livres de fome, sede, dor, medo e desconforto, além de poderem expressar comportamentos naturais.
“O bem-estar está diretamente ligado à saúde dos animais, à qualidade do leite e à sustentabilidade da cadeia produtiva. Trata-se de uma questão ética, econômica e social”, reforça a professora.
Bem-estar
Entre as práticas destacadas pelo grupo de estudantes, estão o uso de camas confortáveis, a oferta de sombra e ventilação adequada, além de ordenhas feitas com equipamentos modernos e menos invasivos. Tudo isso colabora para uma rotina mais tranquila e saudável para os animais.
“Animais bem tratados caminham com facilidade, estão mais tranquilos, não têm feridas e apresentam boa condição corporal. Esses são sinais claros de uma produção humanizada e eficiente”, pontuam as pesquisadoras.
A pesquisa também destaca que o consumidor pode — e deve — ter um papel ativo nesse processo. Uma das orientações é verificar se o leite possui selos de inspeção, como o Selo de Inspeção Federal (SIF), o Selo de Inspeção Municipal (SIM) ou o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI). Esses selos atestam que o leite foi produzido dentro das normas sanitárias e de bem-estar.
“É recomendável buscar marcas comprometidas com a produção ética. Apoiar produtores locais e cooperativas que adotam boas práticas fortalece toda a cadeia”, concluem as estudantes.