
Cientistas anunciaram a descoberta de uma vasta nuvem molecular escura, batizada de Eos, localizada nas proximidades do nosso Sistema Solar, a apenas 300 anos-luz de distância — está mais próxima do que várias estrelas famosas, como Betelgeuse e Antares. A nuvem, cuja existência era teorizada há tempos, foi revelada por meio da emissão fluorescente de hidrogênio molecular (H2) no ultravioleta distante. O hidrogênio molecular é o principal componente das nuvens onde nascem estrelas e planetas.
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O que torna Eos particularmente intrigante é a sua natureza "escura" em relação aos métodos tradicionais de detecção de gás molecular, como a observação de monóxido de carbono (CO). Embora uma pequena quantidade de CO frio brilhante tenha sido detectada (MH2 20–40 M), a massa total estimada de hidrogênio molecular em Eos é muito maior, cerca de 3.4 × 10³ massas solares.
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Essa discrepância de ordens de magnitude sugere que vastas quantidades de gás molecular podem ter ado despercebidas no Universo, levando a uma subestimação da massa total de matéria molecular.
A detecção de Eos foi possível graças ao Far-Ultraviolet Imaging Spectrograph (FIMS/SPEAR), que identificou a fluorescência do H2 nas camadas de fronteira da nuvem. Essa fluorescência ocorre quando o H2 absorve fótons ultravioleta e depois emite luz ao retornar ao seu estado fundamental. Esta técnica inovadora abre uma nova janela para o estudo de gás molecular difuso e não estável quimicamente, que seria invisível para os telescópios de CO.
Eos também se revela conectada ao seu ambiente cósmico. A nuvem está localizada na superfície da "bolha local", uma vasta região de gás quente e rarefeito formada por múltiplas supernovas, dentro da nossa galáxia, a Via Láctea. Sua forma de crescente acompanha o lado de alta latitude do Esporão Polar Norte (NPS), uma estrutura emissora de raios X e ondas de rádio. A interação entre a forma de Eos e a emissão de raios X do NPS sugere uma ligação física, indicando que o ambiente quente da bolha local influencia a estrutura e evolução de nuvens moleculares próximas.
As análises indicam que Eos está marginalmente estável contra o colapso gravitacional e está sendo gradualmente destruída pela radiação ultravioleta e pelos raios-X do NPS. Os cientistas preveem que a nuvem se dissipará em cerca de 5,7 milhões de anos, possivelmente antes que a formação estelar significativa possa ocorrer em seu interior.
O estudo foi publicado na revista Nature Astronomy nesta segunda-feira (28/4).