
Em pronunciamento logo após ser condenada a dez anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que deixou o Brasil no último 25 de maio, afirmou que “não sobreviveria” à pena de reclusão. Segundo ela, doenças com que convive a tornam dependente de remédios e outras complicações que a impediriam de viver de forma adequada, se encarcerada.
Nesta quarta (4/6), após a saída de Zambelli do país, o ministro Alexandre de Moraes decretou prisão preventiva da parlamentar, além de bloqueio de aporte, bens, contas bancárias, cartões de crédito e redes sociais.
Depois de ser condenada há menos de um mês por adulteração de documentos e invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ela afirmou estar nos Estados Unidos para tratamento médico da Síndrome de Ehlers-Danlos (SED) e disse ter intenção de se mudar para a Itália.
À época da condenação, Zambelli afirmou que relatórios médicos eram unânimes em atestar que a SED e outra doença que ela diz ter, a Síndrome da Taquicardia Postural Ortostática (POTS), bem como a depressão, fariam com que ela não pudesse sobreviver na cadeia. A deputada disse, antes de deixar o país, que apresentaria os documentos “em momento oportuno” a fim de que a pena fosse revista.
De acordo com especialistas, as duas doenças em questão são complexas e impactam a qualidade de vida do paciente.
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Síndrome de Ehlers-Danlos
A fisiatra do Centro Especializado em Hipermobilidade e Dor (CEHD) Angélle Jácomo explica que a SED é uma condição hereditária incurável que afeta o tecido conjuntivo. Dessa forma, a presença dessa síndrome pode comprometer, na pessoa que a porta, o funcionamento de sistemas que dão sustentação, elasticidade e firmeza ao corpo.
Por ter efeitos em sistemas musculoesquelético, cardiovascular, gastrointestinal e neurológico, a doença exige acompanhamento multiprofissional, independentemente dos subtipos. “O tratamento das disfunções do tecido conjuntivo requer uma equipe multidisciplinar, com fisiatras, fisioterapeutas, geneticistas, cardiologistas, neurologistas, nutricionistas, psicólogos, psiquiatras e médicos da dor”, diz Angélle.
Os sintomas mais comuns são dores crônicas, fadiga intensa, hipermobilidade das articulações, dificuldades motoras, fragilidade da pele, distúrbios vasculares e neurológicos. No subtipo vascular (SEDv), o mais grave, o paciente tem paredes de vasos sanguíneos e órgãos internos muito frágeis, o que pode levar a rupturas arteriais, perfurações intestinais e até mesmo morte súbita. Neste caso, a médica recomenda que o paciente evite traumas no corpo e faça exames regulares de imagem.
Síndrome de Taquicardia Postural Ortostática
Carla Zambelli foi diagnosticada em setembro de 2024 também com POTS, uma condição de desregulação do sistema nervoso autônomo. Responsável pelo controle de funções involuntárias do corpo, esse sistema, quando desregulado, provoca, por exemplo, aumento anormal de frequência cardíaca e poucas mudanças na pressão arterial quando uma pessoa se levanta após ficar sentada.
Assim, faz com que portadores sintam tontura, palpitações, fadiga intensa, náuseas, visão turva e sensação de desmaio iminente. A Síndrome de Taquicardia Postural Ortostática sugere ligação com a fragilidade do tecido conjuntivo de pessoas com SED — principalmente no que diz respeito ao subtipo hipermóvel, o mais fraco porém mais comum.
“Estudos apontam que até 25% dos pacientes com POTS também apresentam SEDh, o que sugere uma ligação direta entre a fragilidade do tecido conjuntivo e a dificuldade do corpo em manter o retorno venoso ao se levantar”, esclarece o neurologista Welber Oliveira, também do CEHD.
O especialista informa que as causas dessa síndrome ainda são investigadas, a partir de hipóteses que incluem resposta autoimune desencadeada por infecções virais — como covid-19 —; hiperatividade do sistema nervoso simpático; e neuropatia autonômica. A POTS não tem cura, mas tratamento também multidisciplinar que permite melhora de qualidade de vida dos pacientes, por meio de mudanças no estilo de vida e controle de sintomas por medicamentos.
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