Entrevista — advogado ex-presidente da Comissão da Jovem Advocacia da OAB/SC

Arthur Bobsin lança livro com dicas práticas para quem está começando na carreira

Ex-presidente da Comissão da Jovem Advocacia da OAB/SC, Bobsin traz ao livro a vivência de quem acompanhou de perto os desafios enfrentados pelos novos advogados

"A advocacia, muitas vezes, é envolta por uma imagem glamourizada e isso, para quem está começando, pode ser bastante frustrante", Arthur Bobsin - (crédito: Ricardo Pereira/Divulgação)

O advogado Arthur Bobsin lançou sua nova obra Jovem Advocacia: uma conversa sobre o início da profissão, na última terça-feira, durante o Jurisports Brasília 2025. O livro reúne reflexões e orientações práticas para quem está começando na carreira jurídica, com base na experiência de mais de 10 anos do autor ao lado de profissionais em início de trajetória. 

Com prefácio do defensor público José Roberto Mello Porto e apresentação do ministro do TST Caputo Bastos, a obra aborda temas como planejamento de carreira, relacionamento com clientes, uso da tecnologia, organização do escritório e desenvolvimento pessoal, em linguagem ível e direta.

Ex-presidente da Comissão da Jovem Advocacia da OAB/SC, Bobsin traz ao livro a vivência de quem acompanhou de perto os desafios enfrentados pelos novos advogados. Confira a entrevista realizada para o Direito & Justiça

O que o motivou a escrever um livro voltado para a jovem advocacia?

A ideia deste livro surgiu durante a pandemia, um período em que muitos de nós buscávamos novos propósitos ou formas de ocupar o tempo. Naquele momento, pensei em transformar minha pouca experiência na advocacia em uma espécie de bate-papo informal. Percebi que, nas conversas com outros colegas, havia muitas dores em comum, desafios semelhantes, e essa troca era valiosa para superá-los. Foi isso que me motivou a escrever. No ano ado, resolvi retomar esse projeto antigo. Revisitei a proposta com um novo olhar: em vez de compartilhar grandes experiências profissionais, decidi falar sobre o que vivi na faculdade e sobre os caminhos possíveis para quem está começando. 

Quais as principais dificuldades para quem está começando?

Creio que não saber qual caminho seguir. No meu caso, quando entrei na faculdade de direito, eu já sabia que queria advogar, mas para muitos, o cenário do direito pode ser intimidador. Acredito que a primeira grande dificuldade, então, seja essa: entender qual carreira seguir. E, uma vez feita essa escolha, surge uma nova questão: por onde começar? Especialmente para quem não tem familiares ou contatos na área jurídica, o início pode parecer um salto no escuro. 

De que forma sua atuação como presidente da Comissão da Jovem Advocacia da OAB/SC influenciou no conteúdo da obra?

Trabalho há 11 anos no mesmo escritório, onde entrei como estagiário. Por isso, não enfrentei uma das dificuldades que muitos jovens enfrentam — a de começar na advocacia sem ter um mentor ou uma referência. Mais tarde, ao presidir a Comissão da Jovem Advocacia, percebi o quanto essa minha experiência era exceção. Foi nesse papel que entendi os desafios enfrentados por jovens advogados em diferentes contextos.

Que conselho você recebeu e que é essencial para os iniciantes?

O primeiro conselho que eu daria, a partir da minha própria experiência, é aproveitar ao máximo a relação com os professores durante a faculdade. Essa iniciativa me permitiu construir uma rede de contatos acadêmicos ainda na graduação. Acredito que esse é um caminho pouco explorado por muitos estudantes, mas extremamente valioso. Muitos professores são mais do que docentes: são advogados experientes, desembargadores, referências em suas áreas. E, durante o período em que estão na sala de aula, estão íveis, sem as barreiras institucionais. O segundo conselho é algo que aprendi com um professor meu e que ele costuma repetir em palestras: "Mire curto para errar pouco." Isso quer dizer que é melhor dar os curtos, bem calculados, do que projetar grandes voos sem estrutura.

Acredita que a jovem advocacia está mais preparada hoje ou enfrenta novos tipos de inseguranças?

Acho que a nova geração de advogados tem tudo para estar mais preparada do que a minha. Hoje, os estudantes têm o a muito mais informação, ferramentas e possibilidades desde cedo. Por outro lado, também vejo um risco real: o de se tornarem reféns da tecnologia. O jovem advogado que souber equilibrar essas duas dimensões — dominar a tecnologia, mas também saber atuar sem ela — vai sair na frente. 

Que conselhos você daria a quem está inseguro ou frustrado nos primeiros anos da advocacia?

A advocacia, muitas vezes, é envolta por uma imagem glamourizada em que o advogado sempre está diante de causas grandiosas, com decisões de enorme impacto. E isso, para quem está começando, pode ser bastante frustrante, porque, no início, o que chega são causas pequenas. Mas a verdade é que a advocacia é uma profissão que exige paciência. As grandes causas, os casos relevantes, demoram para chegar. Ela não é uma carreira de viradas rápidas ou certezas imediatas. Então meu conselho é resiliência. 

Que mensagem você gostaria que o leitor levasse ao final da leitura do seu livro?

Acho que a mensagem que o leitor vai tirar do livro depende muito do momento em que ele está na jornada do direito. Se for alguém que está começando a faculdade, eu gostaria que ficasse claro que a área e, especialmente a advocacia,  oferece muitas possibilidades. Então, a mensagem é: não se limite. A advocacia vai muito além do que geralmente se imagina no início. Já para quem já está advogando, mas se sente um pouco perdido, o livro pode servir quase como um momento de recalcular a rota. Não que exista um "caminho certo", mas talvez valha se perguntar: esse caminho que estou trilhando é consciente? Sei onde quero chegar com ele? Às vezes, a gente entra no automático, toca o dia a dia da advocacia, mas sem parar para pensar no que está construindo de fato.

Qual é o salário médio de quem está começando?

Acho que as pesquisas divulgadas nos últimos anos mostram que cerca de 50% da advocacia ganha em torno de R$ 3 mil por mês. Então, acho que o início da carreira na advocacia gira em torno disso: entre R$ 3 mil e R$ 4 mil, dependendo do estado, claro.

O estágio em bons escritórios é um impulso para descobrir vocações? E quem não tem essa oportunidade?

O estágio é uma oportunidade fundamental para descobrir se a advocacia é realmente o caminho desejado. Durante a graduação, ar por diferentes experiências como, em tribunais ou escritórios,  ajuda a entender o que se quer (ou não) seguir. Quem não tem o fácil a grandes escritórios pode buscar programas de verão em cidades, como São Paulo, Rio ou Brasília. Além disso, manter boas relações com professores e colegas pode render indicações valiosas. Muitas vagas surgem mais pelo networking do que por processos seletivos formais.

O que não se aprende nas faculdades de direito e faz falta no início da carreira?

Acredito que o desenvolvimento de habilidades interpessoais — as chamadas soft skills — é fundamental. Sempre procurei me envolver em tudo o que fosse possível: associações, grupos diversos, atividades com dinâmicas variadas e pessoas diferentes. Isso me ajudou a entender melhor como a sociedade funciona e a lidar com diferentes perfis. Acho que é importante buscar experiências que nos tirem da zona de conforto. Participar de projetos e trabalhos fora do ambiente acadêmico ou jurídico nos permite compreender melhor o mundo. E o advogado precisa estar preparado para lidar com todo tipo de cliente, em todo tipo de situação.

 


postado em 05/06/2025 05:30
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