
Pedro Waddington carrega no sobrenome uma linhagem artística que o precede como um destino possível e, ao mesmo tempo, desconfortável. Filho da atriz Helena Ranaldi e do diretor Ricardo Waddington, o jovem de 27 anos cresceu entre câmeras, roteiros, ensaios e silêncios de bastidores. Herdou também, pelo sangue e pela convivência, a inquietude criativa de Andrucha Waddington, seu tio, e a verve cênica de Fernanda Torres, casada com ele — nomes que moldaram parte importante da história recente da televisão e do cinema brasileiros. Mas, embora nasça do encontro desses mundos, Pedro busca trilhar seu próprio caminho, apesar da expectativa que nasce do privilégio.
Sua estreia nas novelas acontece agora, sob holofotes pesados e delicados: além da cobrança pela entrega correspondente à força dos ancestrais, ele interpreta Tiago no remake de Vale tudo, um clássico que habita o imaginário nacional há mais de três décadas. O peso do título não o intimida. Pelo contrário, é nessa tensão entre tradição e reinvenção que ele parece florescer. "Viver o Tiago é uma oportunidade enorme de mostrar meu trabalho com um personagem tão complexo e sensível, dentro de um projeto tão especial como Vale tudo", afirma ao Correio o ator carioca.
Entre a preparação e as lições
Pedro mergulhou fundo no processo de preparação. Ele e Paolla Oliveira, que interpreta Heleninha Roitman, sua mãe na trama assinada por Manuela Dias, chegaram a participar de um encontro de Alcoólicos Anônimos, experiência que, segundo ele, expandiu a escuta e refinou o olhar sobre um dos principais conflitos do personagem: a convivência com um familiar alcoolista. "Foi uma preparação profunda para dar vida a um personagem que carrega relações familiares e afetivas tão delicadas e desafiadoras", argumenta.
Tiago, segundo Pedro, é lunar. Jovem, introspectivo, intenso, feito de silêncios e angústias que não cabem no mundo exterior. "A chave para a minha construção foi mergulhar nessa sensibilidade e explorar esse mundo interno tão abundante", conta o ator, que vê no personagem um contraponto delicado à efervescência de outros jovens da novela. O garoto, em constante embate com o pai — o implacável Marco Aurélio (Alexandre Nero) — e em busca de um lugar no mundo, funciona como espelho de muitos adolescentes — e também como campo fértil de reflexão para o próprio ator. "Viver o Tiago abriu espaço para reflexões sobre conflitos que eu ainda não tinha vivido. Ele me faz pensar sobre muitos aspectos da vida e das relações afetivas", reflete.
No set, Pedro convive com veteranos de peso como Paolla, Alexandre, Débora Bloch, Malu Galli e Humberto Carrão — nomes que o inspiram, segundo ele, não apenas pelas performances, mas pela generosidade com que compartilham suas trajetórias. "É um aprendizado gigantesco estar no set com eles. Sempre procuro observar e escutar ao máximo para absorver tudo que posso ao longo do processo."
"É uma faca de dois gumes"
A atual exposição crescente não intimida. Pedro garante que lida bem com a visibilidade e, talvez por ter crescido observando sua mãe lidar com o assédio público, não se deslumbra. "Minha prioridade sempre foi o trabalho. O que realmente me move é a atuação e a entrega ao personagem. A recepção do público é uma consequência desse processo", avalia.
A herança familiar, por vezes vista como um privilégio, também carrega seus fardos. "É uma faca de dois gumes", ite. "Por um lado, gera uma expectativa maior. Por outro, meus familiares compartilham comigo conselhos valiosos. Então, apesar da pressão, eu me sinto amparado e preparado para viver esse momento."
Longe das câmeras, Pedro se descreve como um jovem normal. Flamenguista, mangueirense, apaixonado por cinema, encantado pelas conversas espontâneas e pelos encontros que acontecem fora do script. "Não tenho muitos hobbies, mas adoro conversar e conhecer as pessoas. Acredito que poucas coisas são tão bonitas quanto a originalidade e a espontaneidade", pontua.
Quando perguntado sobre o que faria se não fosse ator, Pedro hesita. "Acho que, de qualquer forma, estaria ligado à arte. Mas minha paixão é mesmo a atuação e, hoje não consigo me imaginar em outra profissão", conclui ele, que, entre o que herdou e o que constrói, busca revelar, aos poucos, quem é o artista por trás do sobrenome. "Talvez eu seja um jovem intenso, que vê beleza em momentos da vida. Acho que posso me descrever assim."
Confira a entrevista.
Entrevista | Pedro Waddington
Você estreia em novelas no remake de Vale tudo, interpretando o personagem Tiago. Como você se sente sobre essa oportunidade e como você se preparou para o papel?
Viver o Tiago é uma oportunidade enorme de mostrar meu trabalho com um personagem tão complexo e sensível, dentro de um projeto tão especial como Vale tudo. Tivemos um processo de preparação intenso na Globo, com todo o elenco e os núcleos. Além disso, tive a oportunidade de participar, junto com a Paolla, de um encontro do AA, o que nos permitiu mergulhar ainda mais nesse universo dos alcoolistas. Foi uma preparação profunda para dar vida a um personagem que carrega relações familiares e afetivas tão delicadas e desafiadoras.
Você vem de uma família de artistas, com sua mãe Helena Ranaldi e seu pai Ricardo Waddington, além de seus tios Andrucha Waddington e Fernanda Torres. Como essa família potente influenciou sua escolha de carreira?
Acho que o convívio com a minha família foi uma forma de ser apresentado à profissão e a muitos dos seus momentos desde muito cedo. Hoje, me sinto muito mais familiarizado com diversas situações no set graças a essas experiências anteriores.
Tiago é um personagem sensível e complexo. Como você se conectou com o personagem e como você acha que ele vai se desenvolver ao longo da novela?
Acho que o Tiago traz um tipo de jovem adolescente: mais introspectivo, sensível e intenso. A chave para a minha construção foi justamente mergulhar nessa sensibilidade e explorar esse mundo interno tão abundante. Tiago é um personagem lunar, e se destaca entre os jovens da trama por isso. Suas inseguranças e conflitos dão profundidade e densidade ao personagem. Sobre o futuro dele na novela, não posso adiantar muito, mas acredito que ele ará por uma grande transformação ao longo da trama, impulsionada por suas relações afetivas.
Como tem sido a troca com os veteranos que te rodeiam no set?
É uma grande oportunidade poder contracenar e trocar com atores tão incríveis como Paolla Oliveira, Alexandre Nero, Débora Bloch, Humberto Carrão e Malu Galli, e outros também tão incríveis. É um aprendizado gigantesco estar no set com eles. Sempre procuro observar e escutar ao máximo para absorver tudo que posso ao longo do processo.
Como você se sente sobre a possibilidade de se tornar, agora, uma figura conhecida nas ruas?
Lido bem com essa exposição, mas minha prioridade sempre foi o trabalho. Desde pequeno, por causa da minha mãe, tive contato com esse lado da profissão, mas o que realmente me move é a atuação e a entrega ao personagem. A recepção do público é uma consequência desse processo.
Sua experiência de trabalhar em uma novela icônica como Vale tudo, de alguma forma, tem influenciado sua visão sobre a vida e sobre as relações humanas?
Com certeza. Viver o Tiago abriu espaço para reflexões sobre conflitos que eu ainda não tinha vivido. A relação com um familiar alcoolista é um deles, os conflitos com o pai, os dilemas de um adolescente também são outros. O Tiago é um personagem cheio de camadas, que me faz refletir sobre muitos aspectos da vida e das relações afetivas.
Sente que sua herança familiar afeta sua experiência de trabalhar em uma novela? Sente uma cobrança maior?
Acho que é uma faca de dois gumes. Por um lado, gera uma expectativa maior. Por outro, meus familiares já aram por muitos momentos dessa profissão e compartilham comigo conselhos valiosos. Então, apesar da pressão, me sinto amparado e preparado para viver esse momento.
Quem é o Pedro atrás das câmeras? Quais são seus interesses pessoais, seus hobbies?
Um jovem normal! Sempre acho difícil me descrever. Sou flamenguista, mangueirense, apaixonado por cinema. Não tenho muitos hobbies, mas adoro conversar e conhecer as pessoas. Acredito que poucas coisas são tão bonitas quanto a originalidade e a espontaneidade. Talvez eu seja um jovem intenso, que vê beleza em momentos da vida. Acho que posso me descrever assim.
Se não fosse ator, que carreira você poderia seguir?
Pergunta difícil… não sei te dizer ao certo. Acho que, de qualquer forma, estaria ligado à arte. Mas minha paixão é mesmo a atuação, e hoje não consigo me imaginar em outra profissão.