
Oliveira, o canalha da redação, lançou uma "empresa de promoção assertiva" — no melhor estilo precarizado, sem funcionários ou sede fora de casa. Ele me explicou o conceito, em tom professoral: "é a evolução da agência de publicidade; olha aí: 'promoção' e 'assertiva'; já diz tudo!".
Pode chamar de EPA, sugeriu. Mas o que vai fazer esse empreendimento? "Vamos ajudar o governo! Tem muita coisa boa aí, mal vendida ao público!", defendeu, eufórico. Brasília, com vocação para o lazer a céu aberto, seu enorme lago artificial, suas grandes áreas e seus clubes, terá muito a ganhar, garante ele.
Não entendi. Limpando com a mão as gotas de suor que o clima da capital fazia brotar na testa, detalhou seu plano: com o aquecimento global, o fim do verão já nem intimida o calor, como vimos no ano ado. Isso pede uma solução, e visionários que a apresentem ao público.
Oliveira propõe ajudar a ignorar por enquanto a mudança climática, investindo, como quer o governo, na produção de petróleo. "Vamos explorar reservas, fazer teste na bacia do Amazonas, tirar mais óleo no litoral, juntar dinheiro nesse fim da festa", defende, firme. "Depois aproveitamos para financiar energia alternativa!"
Mas, Oliveira, isso não pode piorar as coisas? "Viralatismo! Viralatismo!", bradou. "É uma questão de combater o pessimismo, mostrar o ângulo favorável!", argumentou, lembrando sua iração pelo inventor do slogan "agro é pop":"tem de ver o lado positivo, mostrar o que tem de bom, caramba!"
E o lado positivo, para Oliveira, é o lazer, a alegria. Com mais sol e calor, as pessoas sentem vontade de sair, de espairecer, bronzear-se... Só em Brasília, temos o imenso Lago Paranoá, a Água Mineral, os parques da cidade, como o Olhos D'Água, além dos outros fora do Plano Piloto...
Mostrei a ele a matéria do Correio, sobre o pessoal que até tentou correr de manhã cedo no último fim de semana, e foi derrotado pelo calor infernal. "Faltou motivação! Faltou marketing", insistiu ele, que anda colecionando entrevistas do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Adorou as siglas dos ainda vagos Plano Nacional e Fórum Nacional de Transição Energética, "Plante" e "Fonte". "Pura poesia! Esse é o caminho!", aponta o novo visionário do calor extremo.
"Veja bem, tudo que tem transição energética tem 'nte" na sigla; facilita dar o nome certo aos programas para aumentar o astral da população!". Oliveira propõe o CANTE, Carnaval do Adiamento Nacional da Transição Energética, festa nacional para inspirar o povo enquanto não se trocam combustíveis fósseis por fontes limpas de energia. "Olhaí que bacana: quem canta seus males espanta!".
Também sugere o GIGANTE, Grupo Intersetorial do Governo para Animação Nacional na Transição Energética, encarregado de tornar mais agradáveis as praias, trilhas e outras opções de lazer no sol escaldante da Terra sob efeito estufa. "O Gigante acordou! Já pensou nessa campanha? Hein? Hein?".
"Imagine a repercussão: um GIGANTE distribuindo ventiladores de mão na Esplanada!" insiste o canalha. Ele jura já ter até audiência marcada para discutir as ideias com o governo. Conhecendo a peça, deve ser cascata. Mas vai que não.