
A mais recente animação nacional a dominar as salas de cinema, Abá e Sua Banda, retoma temas sobre diversidade e as várias maneiras de existir, desenvolvidos em um grande arco do herói em prol da democracia. Abá, dublado pelo ator Filipe Bragança, enfrenta o dilema clássico do cinema: seguir um destino que lhe foi predestinado — ser príncipe do Reino das Frutas — ou contrariar as expectativas do pai para perseguir o sonho de ser músico, pelo menos até que a tentativa do tio ditador de tomar o trono mude o rumo da história. A trama, dirigida por Humberto Avelar, revela a competência do audiovisual brasileiro e questiona a supremacia do Norte Global sobre a sétima arte, segundo entrevista concedida ao Correio.
Duas perguntas para Filipe Bragança e Humberto Avelar
O mercado dentro da indústria cinematográfica é multimilionário, com produtoras de animações como a própria Disney, a Pixar e a DreamWorks ocupando diversas salas de cinema. Como é para uma animação produzida no Brasil competir por esses espaços com empresas tão grandes como essas?
[Humberto Avelar] – Olha, é uma um responsabilidade e um desafio gigantesco. Logo que lemos o roteiro, combinei com a equipe: “Como vamos fazer? Qual técnica vamos usar? Como vamos viabilizar esse filme?” E eu disse: “Nós não vamos imitar a Disney.” Eu adoro os filmes deles, mas a gente não pode imitá-los. Principalmente porque um filme da Disney custa 200 milhões de dólares para ser feito — e a gente não vai ter nem dois. Então, precisamos buscar uma identidade própria, uma identidade forte.
Investimos muito nisso. Inclusive, Abá e Sua Banda é um dos longas brasileiros pioneiros em misturar técnicas de animação 3D e 2D. Isso ajudou bastante em setores da produção, especialmente na animação. A gente não precisou modelar todo o universo das frutas, todo o reino, com todos os detalhes iluminados em 3D. Em vez disso, pintamos os cenários — são mais de 600 — para compor esse reino.
Qual foi o direcionamento estético para a parte musical do filme, o Abá foi inspirado em algum cantor da vida real?
[Filipe Bragança] - Cara, não, eu não tive nenhum direcionamento específico. Eu já canto há muitos anos, eu toco, então tenho uma familiaridade muito íntima com a música. Sempre fui apaixonado por isso. Na verdade, foi uma grande brincadeira para mim poder cantar no filme. Acho que o desafio foi cantar com a voz desse personagem que eu tinha criado, mas não teve nenhum direcionamento específico, não.
Quando estou atuando num palco ou num set de filmagem, tenho todos esses elementos que me ajudam a trabalhar, a encontrar o personagem e a me comportar em cena. Mas acho que a natureza da profissão de ator não exige isso. Ela exige que eu consiga encontrar a verdade num mundo de fantasia, num mundo que não existe.
E eu acho que não é diferente nesse caso. Estou em um estúdio, sei que estou interpretando um personagem totalmente lúdico, mas, se eu conseguir acreditar naquilo que estou fazendo, funciona pra mim e funciona pro público"