
O caso Bruno Henrique tem tudo para ser um divisor de águas na história de 43 anos do combate contra a manipulação de resultados no futebol brasileiro. Epicentro das fraudes no mundo da bola, o Brasil ampliou a vigilância dos casos. Indiciado pela Polícia Federal devido a uma possível adulteração na derrota por 2 x 1 para o Santos, em Brasília, no Campeonato Brasileiro de 2023, o atacante do Flamengo não é o único alvo das autoridades. A edição deste ano da Série A começou com Ênio, do Juventude, sob suspeita. Os episódios ampliam o número de situações em xeque no esporte do país.
O futebol nacional convive com grandes escândalos de manipulação, pelo menos, desde o início da década de 1980, quando a Máfia das Loterias chacoalhou as estruturas do esporte de alto rendimento (veja memória abaixo). Em 2005, a Máfia do Apito impactou diretamente no andamento da Série A de 2005, inclusive influenciando na disputa do título entre Corinthians e Internacional — com a remarcação de jogos, o alvinegro superou o Colorado na luta pela taça daquele ano. Com a explosão das bets no cenário do país, as grandes operações de combate entraram em cena. Nos últimos anos, foram pelo menos duas de impacto importante.
Banimentos e outras punições de grande escala entraram em campo. Diego Porfírio, Gabriel Tota, Matheus Gomes, Romário e Ygor Catatau estão banidos da profissão graças aos desdobramentos da Penalidade Máxima. Nomes como Alef Manga e Eduardo Bauermann enfrentaram períodos longe dos gramados. Jogador de Seleção Brasileira, Lucas Paquetá enfrenta investigação na Inglaterra e também pode ser excluído do esporte. Possível parceiro no mesmo episódio do Campeonato Inglês, Luiz Henrique deixou o Botafogo para atuar no futebol russo.
As situações de Bruno Henrique e Ênio evidenciam como o cerco está se fechando. Indiciado pela Polícia Federal, o atacante do Flamengo entrou na mira do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O cenário comprometedor aponta punições nas duas esferas. O jogador nega envolvimento e o clube decidiu não afastá-lo devido à "presunção de inocência".
Ênio tem caso parecido ao de BH: tomou cartão amarelo na primeira rodada, contra o Vitória, e o radar da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) constatou volume incomum de apostas em casas esportivas. Em nota publicada nas redes sociais, o jogador negou envolvimento em manipulação para beneficiar apostadores. "Em minha vida pessoal, jamais me envolvi com qualquer indivíduo, grupo de pessoas ou coisas que o valha, que objetivasse algo ilícito, imoral ou desabonador", defendeu-se. Com a investigação em andamento, o clube gaúcho o reintegrou ao elenco. No entanto, o aviso está dado: o alerta de falcatruas no futebol brasileiro está ligado e em alerta.