Itinerários formativos do ensino médio vão melhorarar o ensino brasileiro?

Os parâmetros foram publicados este mês e instituem o modelo curricular dos itinerários formativos do novo ensino médio. A normativa do CNE busca diminuir a disparidade metodológica dos cursos ofertados por instituições de ensino básico

Correio Braziliense
postado em 23/05/2025 19:18
Os novos parâmetros de itinerários propõem a oferta de projetos interdisciplinares e integradores -  (crédito: Gov/Reprodução)
Os novos parâmetros de itinerários propõem a oferta de projetos interdisciplinares e integradores - (crédito: Gov/Reprodução)

 

Artur Maldaner*

A resolução n°4 de 2025, emitida pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e homologada pelo Ministério da Educação, avalia os parâmetros nacionais para a implementação de itinerários formativos nos currículos de escolas de ensino médio. O documento, publicado em 13 de maio, busca garantir o aprofundamento da formação dos estudantes, e propõe valores educacionais, epistemológicos e de diversidade, para a criação de novos cursos de caráter pedagógico. A atualização das ofertas deve seguir as demandas da Política Nacional de Ensino Médio, de 2024, que assegura o direito do estudante de escolher os itinerários de acordo com sua vontade própria e a obrigatoriedade de oferta de duas matérias optativas pela instituição.

As novas ementas devem seguir uma série de componentes curriculares, representadas por quatro eixos estruturantes: do conhecimento de método e investigação científica; da construção de ferramentas de intervenção sociocultural; da inovação tecnológica; e do mundo do trabalho e da transformação social. Além dos valores associados à cada área de conhecimento do conteúdo abordado. O documento também ressalta a importância das escolas públicas e particulares assegurarem igualdade para grupos e populações historicamente prejudicadas, como estudantes de baixa renda, negros, indígenas e quilombolas, estudantes com deficiência e a população LGBTQIAP+.

Otimismo para os novos parâmetros

O professor Márden de Pádua, gerente da assessoria pedagógica do grupo educacional Bernoulli, explica que, a partir de 2026, os parâmetros nacionais devem reger a implementação dos itinerários, já que anteriormente as escolas organizavam as ementas sem embasamento oficial. “A primeira grande importância é a gente entender que hoje existe um parâmetro. Esse é um ponto muito decisivo, porque nas mudanças anteriores do novo ensino médio não havia isso.” ressalta o pedagogo.

Márden de Pádua trabalha no grupo Bernoulli como gerente de assessoria pedagógica
Márden de Pádua trabalha no grupo Bernoulli como gerente de assessoria pedagógica (foto: Bernoulli/Divulgação)

Bernoulli/Divulgação

Para Márden, o ponto de maior importância da implementação, além da mudança da carga horária mínima de 1.200 para 600 horas semestrais, é a possibilidade das escolas de embasar a criação de seus itinerários de acordo com o previsto no documento nas áreas do conhecimento abordadas. De acordo com o professor, a falta de um parâmetro possibilita a criação de iniciativas excessivamente criativas, que possuíam uma intenção positiva e um objetivo de apelar para as experiências cotidianas dos alunos, mas que não funcionaram na prática: “Essas iniciativas realmente aconteceram. Itinerários de fazer brigadeiro, de jogar jogos, mas isso foi uma minoria”.

“A lógica dos itinerários nesse documento é de pegar temas mais macro, como tecnologia, democracia, ecologia e, dentro desses temas, os alunos vão ser instigados a desenvolver competências complexas, de resolução de problemas, de proposição de solução, de análise crítica, de intervenção, de reflexão. Então, essa é a grande jogada do documento.” Explica o especialista, que defende que o documento será importante para garantir uma educação básica de qualidade e pode ajudar as escolas a se afastarem de correntes conteudistas.

O problema não é de caráter metodológico 

Para a pesquisadora Alessandra Moulin, a criação do documento não deve ser eficaz para  a melhora da educação vigente. Na sua tese de doutorado, na qual pesquisou a implementação dos itinerários formativos nos estados do Acre, Ceará e DF, a pedagoga observou que o problema a ser resolvido é de caráter estrutural, e não metodológico, e que a falta de professores e ambientes escolares adequados impossibilita a instalação do modelo: “As questões conjunturais das escolas não permitem que os itinerários sejam colocados em prática da forma como foram pensados, do que está prescrito.”

Alessandra Moulin é consultora educacional, pesquisadora e doutoranda na UnB
Alessandra Moulin é consultora educacional, pesquisadora e doutoranda na UnB (foto: Alessandra Moulin/acervo pessoal)

Acervo pessoal

A educadora critica a fragmentação curricular prevista pelos itinerários, e defende que o modelo falha em garantir ensino personalizado para as diferentes realidades do país. De acordo com Alessandra, os problemas estruturais forçam escolas desprivilegiadas a oferecer apenas alguns itinerários formativo. Ela observou na pesquisa que, muitas vezes, era realizada uma votação para decidir qual matéria seria acatada pela instituição: Pela realidade da estrutura de escola, quantidade de salas, material e a questão de quantidade de professores, as escolas precisam fazer uma pesquisa entre os alunos para saber qual o itinerário que será mais votado. Olha o absurdo disso.”

Leia mais sobre a pesquisa de Alessandra: Pesquisadora aponta falha nos itinerários formativos: “tiveram um impacto muito negativo”

 

Estagiário sob a supervisão de Ana Sá


 

  • Márden de Pádua trabalha no grupo Bernoulli como gerente de assessoria pedagógica
    Márden de Pádua trabalha no grupo Bernoulli como gerente de assessoria pedagógica Foto: Bernoulli/Divulgação
  • Alessandra Moulin é consultora educacional, pesquisadora e doutoranda na UnB
    Alessandra Moulin é consultora educacional, pesquisadora e doutoranda na UnB Foto: Alessandra Moulin/acervo pessoal
  • Os novos parâmetros de itinerários propõem a oferta de projetos interdisciplinares e integradores
    Os novos parâmetros de itinerários propõem a oferta de projetos interdisciplinares e integradores Foto: Gov/Reprodução

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