
O israelense Yaron Lischinsky, 30 anos, tinha acabado de comprar a aliança e esperava oficializar o noivado com a namorada, a norte-americana Sarah Milgrim, 26, durante uma viagem a Jerusalém. Os planos do casal de funcionários da Embaixada de Israel em Washington D.C. foram tragicamente interrompidos às 21h de quarta-feira (22h em Brasília). Com uma pistola nas mãos, Elias Rodríguez, 30, morador de Chicago, se aproximou de um grupo de quatro pessoas, diante do Museu Judaico de Washington, e disparou a curta distância. Yaron e Sarah morreram na hora. Na tarde desta quinta-feira, Rodríguez compareceu pela primeira vez diante do juiz. Ele responderá por duas acusações de assassinato, além de assassinato de funcionários estrangeiros e posse de arma ilegal. O FBI (a polícia federal dos EUA) informou que o criminoso chegou a Washington na véspera do ataque, a fim de participar de uma conferência de trabalho. O Departamento de Justiça investiga o atentado como crime de ódio e terrorismo.
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Por meio de um pronunciamento transmitido em vídeo, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, denunciou o "terrível preço do antissemitismo". "Yaron e Sarah não foram vítimas de um crime aleatório. O terrorista que cruelmente os abateu o fez por uma razão — ele queria matar judeus. Enquanto era levado (pela polícia), ele entoou 'Palestina livre!'. Este é exatamente o mesmo cântico que ouvimos em 7 de outubro. Naquele dia, milhares de terroristas de Gaza entraram em Israel, decapitaram homens, estupraram mulheres, queimaram bebês e massacraram 1.200 inocentes", declarou. "Para esses neonazistas, 'Palestina livre' é apenas uma versão atual de 'Heil Hitler'. Eles não querem um Estado palestino. Eles querem destruir o Estado judeu, querem aniquilar o povo judeu, que tem estado na Terra de Israel por 3.500 anos", acrescentou o premiê.
Netanyahu também acusou os governos da França, do Reino Unido e do Canadá de encorajarem os "assassinos em massa" do grupo terrorista Hamas, depois que os três países denunciaram os "atos escandalosos" cometidos por Israel em Gaza. "(Eles) Querem que Israel se renda e aceite que o exército de assassinos em massa do Hamas sobreviva, se reorganize e repita o massacre uma e outra vez."
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou sua plataforma Truth Social para afirmar que "esses assassinatos horríveis, baseados obviamente no antissemitismo, devem acabar agora!". Segundo o republicano, ódio e radicalismo não têm lugar nos EUA. "Minhas condolências às famílias das vítimas. Tão triste que tais coisas possam acontecer. Deus abençoe a todos!", concluiu. Em conversa por telefone, Trump externou "profundo pesar" a Netanyahu e reafirmou seu compromisso de "erradicar o antissemitismo violento" que "tomou conta" dos campi universitários nos Estados Unidos.
O empresário Yoni River Kalin participou do evento no Museu Judaico de Washington, que envolveu jovens profissionais e funcionários diplomáticos e discutia estratégias para levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza. "Algumas pessoas que estavam no local trouxeram água (ao assassino). Fizeram com que ele se sentasse. 'Você está bem, levou um tiro, o que aconteceu?' E ele disse: 'Alguém chame a polícia!'", relatou, ao esclarecer que, até então, não se sabia que ele tinha assassinado o casal. Rodríguez comprou a pistola 9mm em março de 2020, em Illinois. Ao viajar até Washington, chegou a declarar o transporte de uma arma na bagagem de mão.
A gerente de projetos israelense Yana Naftalieva, 27, moradora de Tel Aviv, contou ao Correio que estudou com Yaron entre 2020 e 2021. "Nós cursamos diplomacia na Universidade Reichman. Ele era muito inteligente e prestativo com todos", disse. "Eu o vi pela última vez dois anos atrás. Era um grande amigo e sempre me ajudava nos estudos." Yana soube da morte de Yaron por meio da imprensa. "É de partir o coração, algo devastador. Eles mereciam algo melhor", desabafou. Ela não se surpreendeu quando o amigo se mudou para Washington. "Yaron estava mais do que pronto para essa tarefa."
"Dura realidade"
Em entrevista ao Correio, Daniel Zonshine, embaixador de Israel no Brasil, explicou que a quinta-feira foi um um "dia difícil" para o Ministério das Relações Exteriores israelense. "Ele reflete, entre outras coisas, a dura realidade em que vivemos. Incitação e antissemitismo podem se transformar e levar a ações violentas", advertiu o diplomata. "As pessoas deveriam saber isso e agir de acordo." O embaixador da Palestina, Ibrahim Alzeben, disse à reportagem que condena este "ato terrível contra diplomatas israelenses, assim como o ataque de soldados israelenses contra diplomatas estrangeiros, em Jenin". "A violência gera contraviolência. Não existe solução, a não ser parar a guerra insana contra a Palestina e lançar bases sólidas para uma paz duradoura, justa e coexistente."
Repúdio e pesar dos brasileiros
Em nota divulgada ontem pelo Ministério das Relações Exteriores, o governo brasileiro informou que "repudia, com veemência", o assassinato de dois jovens funcionários da Embaixada de Israel em Washington. "Ao transmitir as condolências aos familiares das vítimas e ao povo israelense, o governo reitera sua firme condenação ao antissemitismo, ao extremismo e a crimes de ódio como o ocorrido na capital norte-americana", afirmou.