Guerra

Rússia bombardeia Kiev durante maior troca de prisioneiros entre os países

Enquanto familiares se emocionam com reencontros após anos de incertezas, capital da Ucrânia sofre novas investidas aéreas. Drones e projéteis atingiram bairros residenciais e deixaram, ao menos, 15 pessoas feridas

Rússia lançou 14 mísseis balísticos e 250 drones contra Kiev. Governo ucraniano afirmou ter derrubado a maior parte do arsenal ofensivo -  (crédito:  AFP)
Rússia lançou 14 mísseis balísticos e 250 drones contra Kiev. Governo ucraniano afirmou ter derrubado a maior parte do arsenal ofensivo - (crédito: AFP)

Em meio ao maior processo de troca de prisioneiros de guerra entre Rússia e Ucrânia desde o início do conflito em 2022, ataques em larga escala das forças russas atingiram a capital ucraniana, Kiev, neste sábado (24). Drones e mísseis caíram sobre bairros residenciais da cidade, provocando explosões, incêndios e ferindo, ao menos, 15 pessoas. O bombardeio ocorreu no segundo dia da operação que prevê a libertação de mil combatentes de cada lado, em um raro momento de negociação direta entre os dois países, com mediação internacional.

A Força Aérea da Ucrânia informou ter derrubado seis mísseis balísticos do tipo Iskander-M/KN-23 e neutralizado 245 drones Shahed, de um total de 14 mísseis e 250 drones lançados pelas forças russas. No entanto, horas depois, houve nova investida, com dezenas de drones. As autoridades locais descreveram Kiev como "o principal alvo" da ofensiva. Os impactos de mísseis e a queda de destroços sobre áreas residenciais resultaram em vários focos de incêndio e danos materiais significativos. Além das 15 pessoas feridas em Kiev, outras duas foram atingidas na região metropolitana.

O Ministério da Defesa da Rússia alegou que os ataques foram direcionados a "empresas do complexo militar-industrial" e a "posições de sistemas antiaéreos Patriot", fornecidos pelos Estados Unidos à Ucrânia. O governo ucraniano, no entanto, interpretou a investida como mais uma demonstração da recusa de Moscou em buscar uma solução pacífica para a guerra.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, voltou a defender sanções mais severas contra setores-chave da economia russa. "Apenas sanções adicionais forçarão Moscou a cessar os ataques", escreveu na rede X, acrescentando que "a causa do prolongamento da guerra está em Moscou".

A embaixadora da União Europeia na Ucrânia, Katarina Mathernova, também reagiu duramente ao ataque. "Se ainda há alguém com dúvidas de que a Rússia quer continuar com a guerra, que leia os jornais", declarou.

Troca histórica

Enquanto as bombas caíam sobre Kiev, centenas de famílias se reuniam na região istrativa de Chernihiv, no norte do país, para receber combatentes ucranianos libertados no acordo de troca com a Rússia. A operação teve início na sexta-feira, com a libertação de 390 prisioneiros de cada lado. Neste sábado, mais 307 soldados ucranianos foram devolvidos ao país em troca de igual número de prisioneiros russos. A terceira etapa está prevista para ocorrer neste domingo (25), totalizando mil de cada lado.

 In this handout photograph taken and released by the Ukrainian Presidential Press Service on May 24, 2025, a Ukrainian prisoner of war (POW) wrapped with a national flag reacts following an exchange at an undisclosed location, amid the Russian invasion in Ukraine. Russia and Ukraine exchanged 307 POWs from each country on May 24, 2025, the Russian defence ministry said on the second day of the biggest prisoner swap in more than three years of conflict. (Photo by Handout / UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE" - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS
Soldados ucranianos se emocionam ao serem recebidos por familiares (foto: AFP)

A negociação da troca foi o único resultado concreto da rodada de conversas realizadas na semana ada na capital turca, Istambul, marcando o primeiro contato direto entre representantes russos e ucranianos em três anos. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou publicamente o acordo e segue pressionando ambos os lados por um caminho diplomático que leve ao fim da guerra.

Lágrimas e abraços

A chegada dos prisioneiros libertados em Chernihiv foi marcada por cenas de comoção, sorrisos e lágrimas. Com olhares cansados, magros e visivelmente debilitados, os soldados foram recebidos por familiares, muitos deles com fotos nas mãos e a esperança de reencontrar parentes desaparecidos. Alguns foram direto para hospitais da região, onde aram por exames médicos e avaliações psicológicas.

Entre os libertados, estava Konstantin Steblev, 31 anos, capturado no início da guerra, em fevereiro de 2022. Ao pisar em solo ucraniano, ligou para a mãe: "Oi mãe, como você está? Eu te amo. Não fique triste. Não foi minha culpa. Prometi que voltaria são e salvo", disse, emocionado, com lágrimas nos olhos. "É uma loucura. Sentimentos de loucura", relatou à -Presse. Ele contou que sobreviveu ao cativeiro pensando na esposa: "Ela sabe que sou forte. Agora, é ela quem vai me dizer o que fazer."

Outro reencontro foi o de Olena e Oleksandr, casal que ou 22 meses separado após a captura dele pela Rússia. "Estou no céu", disse o homem, de 45 anos, ao abraçar a esposa. Seu maior desejo no momento, segundo ele, é "comer e ar tempo com a família".

Apesar da alegria dos reencontros, nem todos os familiares tiveram respostas. Muitas mulheres deixaram o local chorando, sem qualquer informação sobre maridos, filhos ou irmãos desaparecidos. "Em quase todas as trocas, há pessoas sobre as quais ninguém sabia nada", contou um funcionário do governo ucraniano sob anonimato. "Às vezes, devolvem pessoas consideradas mortas ou que estavam na lista de desaparecidos", disse.

Elia, 33 anos, reencontrou o marido Andriy após três anos. Ao vê-lo, correu para abraçá-lo. "Meu coração quase saiu do peito. Esperei tanto por isso." Mesmo diante da felicidade, ela reconhece o caminho difícil pela frente. "Ele tem um olhar vazio, mas sei que não o destruíram. Os rapazes que estavam com ele disseram que ele foi muito forte." Agora, Elia sonha em ter um filho com o marido.

Ofensiva se intensifica

Mesmo com as negociações em curso e os gestos humanitários envolvendo os prisioneiros, a guerra segue brutal nas linhas de frente. O Exército russo continua avançando em algumas regiões do território ucraniano, segundo fontes de Kiev, apesar de sofrer pesadas baixas.

 This handout photograph taken and released by the Ukrainian State Emergency Service press service on May 24, 2025, shows resquers and locals helping an injured person following Russian strike in Kyiv, amid Russian invasion in Ukraine. At least eight people were wounded in a drone and missile attack on Kyiv on May 24, 2025, city authorities said, just as Russia and Ukraine were in the middle of a major prisoner swap. The head of Kyiv's civil and military istration, Tymur Tkachenko, reported fires and fallen debris in several parts of the Ukrainian capital, after AFP journalists heard explosions overnight. (Photo by Handout / Ukrainian State Emergency Service Press Service / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / Ukrainian State Emergency Service press service" - HANDOUT - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS
Bombardeio russo feriu civis que estavam em áreas residenciais (foto: AFP)

Neste sábado, o Ministério da Defesa da Rússia afirmou ter tomado o controle de duas cidades na região de Donetsk, no leste, e uma em Sumy, no nordeste. Em Sumy, uma mulher morreu após bombardeios russos. Já no lado russo da fronteira, no Oblast de Kursk, cinco pessoas ficaram feridas em ataques atribuídos a forças ucranianas.

Na sexta-feira, autoridades ucranianas relataram que 11 civis morreram em bombardeios russos em diferentes regiões do país. A intensidade dos ataques evidencia o ime militar em que se encontra o conflito, que se estende há mais de três anos sem uma perspectiva clara de desfecho.

postado em 25/05/2025 06:00
x