História

Visão do Correio: Dois homens do seu tempo

Quis o destino que os ideais de Joaquim José da Silva Xavier e Tancredo de Almeida Neves ecoassem Brasil afora e se encontrassem no dia 21 de Abril

Os caminhos da história — ela, a mestra de todos os tempos — se cruzam mesmo séculos depois -  (crédito: Acervo USP/ Biblioteca da Presidência da República)
Os caminhos da história — ela, a mestra de todos os tempos — se cruzam mesmo séculos depois - (crédito: Acervo USP/ Biblioteca da Presidência da República)

Nesta segunda-feira, o país reverencia a memória de dois grandes brasileiros, nascidos em Minas Gerais, que tiveram sempre a liberdade como princípio, meio e fim. O 21 de Abril marca o dia da morte de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, expoente da Inconfidência ou Conjuração Mineira, enforcado em 1792. Também os 40 anos do falecimento de Tancredo Neves, eleito para a Presidência da República, embora não empossado por problemas de saúde que o levaram a óbito em 1985. 

Centenas de páginas já foram escritas sobre esses homens vindos ao mundo na Região do Campo das Vertentes: Tiradentes, na Fazenda do Pombal, município de Ritápolis; Tancredo, em São João del-Rei. Ao primeiro, um mártir, se deve a presença heroica no movimento anticolonial contra a derrama — cobrança forçada de impostos atrasados — e a dominação da Coroa portuguesa. A Tancredo, morto 193 anos depois, o legado da democracia.

Primeiro presidente civil eleito no Brasil após 21 anos do regime militar, Tancredo saiu vitorioso no Colégio Eleitoral para escolha do novo presidente em 15 de janeiro de 1985. Era a nação emergindo das sombras da ditadura, vislumbrando horizontes e confiante no mineiro considerado conciliador. A eleição concretizou a Nova República e pavimentou o caminho para a Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Com a morte dele, o vice na chapa, José Sarney, recebeu a missão de conduzir o país à redemocratização.

Na Nova República, voltava à Presidência um civil, e o país se despedia do tempo dos generais à frente do Executivo. "Esta foi a última eleição indireta do país", afirmou Tancredo, no discurso da vitória, perante "Deus e a nação". Diante do resultado, agradeceu a mobilização popular, principalmente a campanha Diretas Já, e destacou o brasileiro como um "povo que não se abate, que sabe afastar o medo e não aceita acolher o ódio".

Já Tiradentes não viu a pátria livre do jugo português. Foi enforcado no Campo da Lampadosa, no Rio de Janeiro, 30 anos antes de dom Pedro I proclamar a Independência. Em 2026, serão lembrados os 280 anos do nascimento do mártir, excelente oportunidade, portanto, para se pesquisar mais sobre a vida dele, dos demais inconfidentes e dos caminhos que levaram à Inconfidência Mineira.

Os caminhos da história — ela, a mestra de todos os tempos — se cruzam mesmo séculos depois. Quis o destino que os ideais de Joaquim José da Silva Xavier e Tancredo de Almeida Neves ecoassem Brasil afora e se encontrassem no dia 21 de abril. O primeiro, com sua sede de liberdade, se rebelando contra o domínio de Lisboa, a tirania colonial. O segundo, homem do seu tempo, pensando um Brasil democrático, de futuro, sem amarras. Afinal, aprendeu desde criança, no banco da escola, o lema da bandeira do seu estado: "Libertas quae sera tamen", que, em bom português, significa "Liberdade ainda que tardia". Herança dos inconfidentes.

 

 

postado em 21/04/2025 06:00
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