Música

Performer sedutor

Sem pudor, a película, que focaliza as diferentes facetas do cantor, tem emocionado os espectadores, principalmente os fãs, que o idolatram

"Desde então, tenho acompanhado a trajetória de Ney, extraordinário intérprete e um performer sedutor" - (crédito: Divulgação/Oxidany)

Morador de Barreiras, cidade do oeste baiano, ouvia, na Rádio Nacional e no serviço da auto-falante da Praça Duque de Caxias, chamada pomposamente pelo locutor de Rádio Educadora, canções tradicionais do repertório de Orlando Silva, Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves, Carlos Galhardo, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Nora Ney, Dircinha e Linda e Batista. 

Adolescente, ao chegar à capital federal em 1963, fui estudar no Centro de Ensino Médio Elefante Branco. Logo num dos primeiros dias, por volta das 10h, no intervalo das aulas, deparei-me com a apresentação do Madrigal de Brasília. De imediato, fiquei impressionado com a voz de um dos integrantes do grupo, que se assemelhava à de uma mulher.

Um colega informou-me que aquele cantor possuía o timbre de contralto — algo que, até então, nunca tinha ouvido. Era Ney Matogrosso, que havia escolhido Brasília para morar, depois de servir à Aeronáutica, no Rio de Janeiro. À época, ele integrava um grupo de teatro, com amigos da UnB, cantava em casas noturnas da Asa Sul e trabalhava no Hospital de Base, no setor de pediatria, onde era responsável pela  recreação das crianças.

Em março  de 1975, ao iniciar a carreira de jornalista, como estagiário do extinto Diário de Brasília, estive no Ginásio Nilson Nelson para cobrir o show do Secos & Molhados, grupo vocal que tinha Ney como solista. Aquele espetáculo é, desde então, recordista de público naquele espaço artístico-esportivo, uma vez que teve duas sessões superlotadas na mesma noite.

Desde então, tenho acompanhado a trajetória de Ney, extraordinário intérprete e um performer sedutor, assistindo às suas apresentações aqui em Brasília e no Rio de Janeiro — inclusive, no histórico Rock in Rio de 1985, em que foi acompanhado pela banda brasiliense Placa Luminosa. 

O show mais recente dele na cidade, foi Bloco na rua, da turnê de 2024, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, para onde estará de volta em 15 de junho próximo. Como em outras oportunidades, buscarei entrevistá-lo, antes.

Esta apresentação virá no embalo de Homem com H, filme com característica de cinebiografia, dirigido por Esmir Filho, no qual é vivido por Jesuíta Barbosa, elogiado ator pernambucano.

Sem pudor, a película, que focaliza as diferentes facetas do cantor, tem emocionado os espectadores, principalmente os fãs, que o idolatram. Em exibição no circuito cinematográfico brasiliense, assisti ao Homem com H, quinta-feira última, no Cine Cultura, do Liberty Mall. Ao final da superlotada sessão pipocaram aplausos frenéticos. 

Mais tarde revi na tevê Olho Nu, documentário que se atém, basicamente, no início da carreira de Ney, com depoimento da mãe e do pai, que o havia expulsado de casa, quando ele decidiu seguir a carreira artística; e que ficava incomodado quando via a performance do filho, rebolando em programas de tevê.

No documentário, ele lembra da agem por Brasília, do início da carreira, da vitoriosa trajetória e da faceta subversiva, com participação em comícios do movimento das Diretas Já. Deixa claro sua iração por James Dean, Marlon Brando, Elvis Presley, Oscarito e Grande Otelo e expõe sua relação com Cazuza, de quem canta o clássico O tempo não para.

IR
postado em 06/05/2025 06:00
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