ARTIGO

Por que educar para a mídia

Em uma época em que a informação é abundante, mas a compreensão é escassa, promover a educação midiática é investir em democracia, em convivência e em um futuro mais justo e plural para todos

PRI-0206-OPINI -  (crédito: Maurenilson Freire)
PRI-0206-OPINI - (crédito: Maurenilson Freire)

Maíra Moraes e Cristiane Parente, Doutoras em comunicação e pesquisadoras em educação midiática

Vivemos em um mundo saturado de informações. Para onde olhamos, a todo momento, somos impactados por conteúdos pelos mais diversos es e formatos. Há tempos saímos da conectividade e mergulhamos no mundo da hiperconectividade; infelizmente deixando rastros de exclusão digital e, portanto, de direitos.

Nem nos demos conta, mas começamos a sentir os impactos. Dificuldade de manter foco, ansiedade, sensação de isolamento e comparação social são apenas alguns exemplos. Sintomas presentes não apenas em adultos, mas também em adolescentes e crianças. Justamente por isso, torna-se urgente desenvolver habilidades que nos ajudem a consumir conteúdos de forma mais autônoma, consciente. 

É nesse contexto que surge a educação midiática. Processo de ensino e aprendizagem que desenvolve competências para ar, interpretar, analisar, avaliar os conteúdos midiáticos de forma crítica e ética. Envolve a capacidade de compreender os meios de comunicação e a informação em diferentes formatos, reconhecer desinformação, refletir sobre os impactos sociais e culturais da mídia e atuar com responsabilidade na produção e compartilhamento de conteúdo.

Ela vai além do simples domínio de ferramentas digitais, trazendo a reflexão sobre nossa participação ativa nesse processo comunicativo, trazendo temas como segurança e privacidade, direitos digitais, liberdade de expressão, modelos de negócios das plataformas digitais e o papel da imprensa na sociedade.

Mas por que isso é tão necessário? Porque essa postura crítica em relação ao que consumimos pode ajudar a mitigar a desinformação. Informações falsas, teorias conspiratórias e conteúdos manipulados se espalham com facilidade e têm impactos reais sobre decisões pessoais, políticas públicas e o convívio social, podendo causar graves consequências. 

Ao desenvolver o pensamento crítico, aprendemos a questionar uma informação, a checar fontes e a entender os interesses que motivam a disseminação de certos conteúdos, inclusive mercadológicos e políticos. Além disso, promove a cidadania digital. Boa parte das crianças e dos adolescentes cresce em um ambiente permeado por telas, influenciadores, memes e algoritmos — mas raramente é orientada a entender como tudo isso funciona. Ensinar sobre o uso consciente da tecnologia é fundamental para formar usuários responsáveis e cidadãos preparados para os desafios do mundo conectado.

Mas educação midiática não é apenas sobre "não cair em fake news" ou "usar bem o celular". É, sobretudo, um convite à autoria. Ao incentivar crianças e jovens a produzirem os próprios conteúdos — vídeos, podcasts, jornais escolares, blogs, postagens criativas —, estamos promovendo sua capacidade de expressão, reflexão e atuação social. Quando são produtores, am a compreender melhor os mecanismos de comunicação e edição do mundo e a ocupar espaços de participação democrática.

Essa transformação não depende apenas de políticas educacionais, mas de uma articulação mais ampla. Embora a escola tenha papel central, a educação midiática é uma responsabilidade compartilhada. Famílias, jornalistas, produtores de conteúdo, plataformas digitais, organizações da sociedade civil e gestores públicos devem colaborar para construir uma cultura de criticidade e responsabilidade comunicativa.

Iniciativas como a Agência de Notícias dos Alunos da Rede — ANDAR (MultiRio/RJ), o Imprensa Jovem (SP) e o Programa EducaMídia (Instituto Palavra Aberta); assim como a Estratégia Brasileira de Educação Midiática e as Diretrizes Operacionais Nacionais do Conselho Nacional de Educação sobre o uso de dispositivos digitais em espaços escolares e a integração curricular da educação digital e midiática, publicadas em março de 2025, representam os importantes nesse caminho. Mas ainda é preciso garantir o equitativo, formação de professores, materiais contextualizados e políticas públicas em todo o país que compreendam a comunicação como um direito.

Em uma época em que a informação é abundante, mas a compreensão é escassa, promover a educação midiática é investir em democracia, em convivência e em um futuro mais justo e plural para todos, educando para, pela, com e, especialmente, sobre a mídia. E o mais importante, com crianças e adolescentes, com idosos, com pessoas com deficiência; grupos minorizados. Educando com a sociedade, e não apenas para ela. Em um processo que começa com escuta e respeito à cultura de cada território.

 

Por Opinião
postado em 02/06/2025 06:00
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