
Animais abandonados pelas ruas são vítimas das baixas temperaturas dos últimos dias. Largados à própria sorte, esses cães e gatos dependem da caridade das pessoas para sobreviver ao frio, como é o caso da advogada Jéssica Albuquerque, de 31 anos. Ela começou, em 2019, o projeto Recicla Pet, que une a reciclagem de materiais à solidariedade com os amigos de quatro patas. "Eu via os bichinhos na rua, mãezinhas com filhotes no frio. Como não dá para trazer todos para a nossa casa, decidi levar o mínimo de conforto para eles na rua", destaca a fundadora da iniciativa.
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Construindo casinhas de caixas de suco e leite, com teto de PVC e forro de embalagens vazias de ração, os voluntários do Recicla distribuíram esses pequenos abrigos em todo o Distrito Federal. "Todo mês fazemos um dia de montagem. Os voluntários que têm disponibilidade vêm ajudar. Pedimos doações dos materiais pela nossa conta no Instagram e recebemos as pessoas para que possamos construir as casinhas", explica.
Ela conta que o processo acontece da seguinte forma: moradores da região que notam animais vivendo nas ruas, entram em contato com o Recicla, o projeto busca alguém que se disponibilize a cuidar da casinha, abastecendo com água e ração e monitorando os animais — muitos desses pets são levados para castração e, posteriormente, adoção. "Precisamos de um tutor para cuidar dessa casinha, para que não se torne um ponto de abandono. Fazemos esse trabalho em parceria com a comunidade. Tiramos fotos dos bichinhos, publicamos em nosso Instagram, marcamos outras páginas e sempre conseguimos muitas adoções", afirma. "Todo mês a gente faz uma força-tarefa com o nosso grupo, fazemos inscrições junto ao governo para castrar vários animais. Então, mensalmente, castramos, em média, de 15 a 20 animais.
Jéssica ressalta, porém, que a quantidade de casinhas produzidas não supre a demanda do DF. "Somos um grupo pequeno de voluntários e com recursos limitados, dependemos de doações dos materiais. Então nosso objetivo é ensinar as pessoas para que elas também possam confeccionar as casinhas em seus bairros, por isso temos tutoriais em nossa conta no Instagram", explica a voluntária.
Segundo a médica veterinária Agda Pavan, o frio e a baixa umidade, típicos do inverno em Brasília, prejudicam as vias respiratórias dos animais, especialmente de cães e gatos abandonados. "Assim como em humanos, o sistema imunológico deles fica mais vulnerável a vírus e bactérias. Animais de rua estão expostos à poluição, ao vento frio, o que aumenta o risco de pneumonia e traqueobronquite", explicou. A especialista contou que os animais podem ser acometidos por hipotermia e desidratação, uma vez que o tempo seco do inverno reduz a disponibilidade de água. "Animais de rua têm dificuldade para encontrar fontes limpas, levando a problemas renais e fraqueza. A desidratação piora doenças crônicas, como insuficiência renal, comum em gatos idosos", acrescenta.
De acordo com dados da Confederação Brasileira de Proteção Animal (CBPA), há entre 1,5 milhão e 1,7 milhão de cães e gatos nas ruas do Distrito Federal. Quem tenta ajudar esses animais tem uma rotina árdua e, muitas vezes, frustrante. "Eu compro cerca de uma tonelada de ração por mês. Vivo com o cartão bloqueado, de empréstimos. É muito exaustivo", relata a assistente istrativa Lucimar Pereira, 52. Lucimar é fundadora do grupo Acalanto, composto de 17 protetores independentes e voluntários, que resgatam, cuidam, castram e disponibilizam os animais nas feiras de adoção.
Ao todo, a equipe protege, atualmente, 1.627 cães e gatos. "Não temos abrigo formal, os animais ficam nas nossas próprias casas e chácaras, somos lares temporários. Durante os meses de frio, recolhemos doações de roupinhas, principalmente para os animais que estão em chácaras. Eles sentem muito frio", lamenta Lucimar. "Temos muitos cães grandes, idosos ou com sequelas, que simplesmente nunca serão adotados. É uma situação desesperadora", completou. O grupo promove feiras de adoção, aos sábados, nas lojas da Cobasi, por meio de uma parceria que dura seis anos.
O melhor amigo do homem
Algumas iniciativas que atendem pessoas em situação de rua não deixam de lembrar também de seus amigos de quatro patas que os acompanham aonde forem. Com sete anos de atuação na capital, o projeto Aqueça Corações nas Ruas presta apoio e solidariedade a quem vive desabrigado, oferecendo alimentos, roupas e, em alguns casos, cuidados médicos. Nas ações que promovem, os voluntários também levam ração, cobertas e roupinhas para os cães e gatos que vivem com essas pessoas. "Entregamos alimentos, roupas e outros itens duas segundas-feiras por mês no Gama. Durante as ações, rodamos de carro por todos os setores, entregando marmitas e outros itens essenciais para as pessoas de rua que, muitas vezes, estão acompanhadas de algum animalzinho", contou uma das fundadora do projeto, a trabalhadora do setor istrativo Lívia Almeida, 30, que criou a iniciativa com a amiga Bárbara Barros, 31. "amos a levar ração e alimento para os pets e, também, a sensibilizar a população para contribuir com doações, como coberta e mantas para esses cães e gatos que vivem nas ruas e são companheiros fiéis dessas pessoas", completa.
Saiba Mais
Como ajudar os projetos?
Projeto Recicla Pet
Instagram: @recicla.pet
pix: [email protected]
Projeto Acalanto
Instagram: @projetoacalanto.df
Pix: 50.366.307/0001-89
Projeto Aqueça
Corações nas
Ruas (ACR)
Instragram: @projetoacr
pix: [email protected]