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Assim como a Daniela de "Vale tudo", Jessica Marques prioriza os estudos

"Estudo em primeiro lugar! Não seria quem eu sou hoje se não fosse uma educação pública de qualidade", defende Jessica Marques, 25 anos, que é formada pela UFBA e estreia em novelas com "Vale tudo" após ter trabalho destacado na série "Justiça"

Jessica Marques, atriz -  (crédito: Maria Magalhaes)
Jessica Marques, atriz - (crédito: Maria Magalhaes)

Por trás do sorriso largo e do olhar atento, Jessica Marques carrega uma trajetória forjada em perseverança, talento e desejo de transformação. Aos 25 anos, a atriz baiana estreia em sua primeira novela, o tão aguardado remake de Vale tudo, sob a batuta da autora Manuela Dias, com quem já havia trabalhado na aclamada série Justiça (2024). Agora, ela dá vida a Daniela, uma jovem estudante de direito preta, apaixonada pela justiça e determinada a realizar seus sonhos — um papel que, segundo a própria Jessica, "representa muitas meninas pretinhas que buscam realizar seu sonho e ajudar a sua família".

"Fiquei radiante!", exclama, ao lembrar da ligação em que soube que integraria o elenco da novela. "Minha primeira novela e com a Manu de novo! Senti que meu trabalho anterior foi reconhecido e que tudo acontece na melhor hora." Reencontrar Manuela Dias em um novo projeto foi, para Jessica, uma oportunidade de reafirmar a iração que sente pela escritora. "Gosto de trabalhar com ela porque ela dá uma dose de protagonismo para cada personagem, mesmo em um elenco grande. É enriquecedor ver cada um brilhar."

Afeto e rigor

A trajetória até Daniela foi construída com afeto e rigor. "Daniela é doce, divertida, determinada, amorosa… representa muitas de nós." Mas talvez um dos pontos mais revolucionários de sua participação em Vale tudo seja o fato de integrar um núcleo 100% preto e de classe média na trama — uma configuração ainda rara no horário nobre brasileiro. "Representatividade total! Uma família preta retinta em horário nobre, que tem uma condição de vida estável, que são felizes juntos, que têm mesa farta. Isso significa muito", afirma, com a segurança de quem sabe da potência simbólica que carrega.

"Por muito tempo, a imagem do negro no audiovisual estava ligada à escravidão, à sexualização, ao analfabetismo e à marginalização. Agora conseguimos ocupar outros espaços. Ainda sonho em ver um núcleo com uma família preta rica. Seria um choque, mas significaria muito: que nós também podemos estar nesse lugar."

Eterna aprendiz

Jessica fala pausadamente quando reflete sobre sua formação. Para além da experiência no teatro, ela traz consigo a marca de uma educação plural, que transbordou das salas de aula para o palco. "Me considero uma eterna aprendiz. Fiz cursos de dança, que me ajudaram a me posicionar em cena, cursos de técnica vocal que me ajudam a projetar a voz, workshop de palhaçaria que me fizeram não ter medo de errar. Tudo é importante para a construção do ator e da personagem. O ator nunca sabe de tudo — no dia em que eu souber, serei uma atriz acomodada, e eu não quero isso. Quero sempre aprender, assim crescemos e evoluímos."

Embora esteja plenamente dedicada à carreira artística, Jessica não abandonou seus outros sonhos. "Sou atriz, meu propósito maior é atuar até ficar velhinha, no palco, nas novelas, nos filmes… seja onde for. Mas carrego comigo o desejo de ser a primeira doutoranda da família. Não importa o tempo: ainda voltarei à faculdade para terminar meu mestrado e iniciar meu doutorado."

Quando questionada sobre os avanços e desafios em termos de diversidade e representatividade na televisão brasileira, Jessica reconhece os progressos, mas não perde a clareza crítica. "Houve um lindo aumento na diversidade, mas ainda não é um número equitativo. Tivemos algumas protagonistas negras contra milhares de brancas por várias gerações. Estamos caminhando e avançando, isso é potente, mas ainda não temos uma equidade — não só para a comunidade negra, mas também para a comunidade LGBTQIAPN+, os indígenas e PCDs."

Inspiração

É essa consciência que impulsiona sua trajetória. "Eu amo meu trabalho, amo meu ofício! Pode parecer clichê, mas a melhor parte do meu dia é quando vou trabalhar. Isso me mantém inspirada. Minha maior motivação é ver como meu pai está orgulhoso da filha dele e como eu estou orgulhosa da mulher que venho me tornando", declara, puxando para si também essa qualidade de Daniela: o prestígio familiar. 

Antes de se despedir, Jessica deixa um conselho para quem, como ela, sonha em viver de arte: "Estudo em primeiro lugar! Não seria quem eu sou hoje se não fosse uma educação pública de qualidade. A Universidade Federal da Bahia me formou enquanto artista, professora, atriz. Sem essa base acadêmica, não sei se estaria onde estou hoje."

  • Jessica Marques, atriz
    Jessica Marques, atriz Maria Magalhaes
  • Jessica Marques, atriz
    Jessica Marques, atriz Maria Magalhaes

 

postado em 26/05/2025 18:40 / atualizado em 26/05/2025 23:10
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