{ "@context": "http://www.schema.org", "@graph": [{ "@type": "BreadcrumbList", "@id": "", "itemListElement": [{ "@type": "ListItem", "@id": "/#listItem", "position": 1, "item": { "@type": "WebPage", "@id": "/", "name": "In\u00edcio", "description": "O Correio Braziliense (CB) é o mais importante canal de notícias de Brasília. Aqui você encontra as últimas notícias do DF, do Brasil e do mundo.", "url": "/" }, "nextItem": "/opiniao/#listItem" }, { "@type": "ListItem", "@id": "/opiniao/#listItem", "position": 2, "item": { "@type": "WebPage", "@id": "/opiniao/", "name": "Opinião", "description": "Leia editoriais e artigos sobre fatos importantes do dia a dia com a visão do Correio e de articulistas selecionados ", "url": "/opiniao/" }, "previousItem": "/#listItem" } ] }, { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": "/opiniao/2025/04/7124301-o-racismo-ainda-esta-aqui.html", "name": "O racismo ainda está aqui", "headline": "O racismo ainda está aqui", "description": "", "alternateName": "Racismo", "alternativeHeadline": "Racismo", "datePublished": "2025-04-26T06:00:00Z", "articleBody": "<p class="texto"><strong>EMÍLIO CHAGAS</strong>, editor da revista <em>Tição</em></p> <p class="texto">Quando criamos a <em>Tição</em>, em 1978, tínhamos alguns eixos centrais que nos motivaram e nortearam os rumos da revista: o movimento Black Power, dos EUA, no fim dos anos 60; as revoluções emancipatórias dos países-colônias da África, Angola, Guiné e Moçambique, em especial; o apartheid; o pensamento "uspiano", da Universidade de São Paulo (USP), notadamente o trabalho de abordagens sociológicas do negro pelo professor Florestan Fernandes; a chamada "imprensa nanica" ou alternativa, com suas dezenas de publicações voltadas para os mais diversos públicos, todas de combate à ditadura militar; e, por fim, a situação do negro brasileiro naqueles anos. Enfrentávamos sistemática perseguição policial, discriminação generalizada, barreiras no mercado de trabalho e no o ao ensino superior, principalmente, e ausência quase que maciça de autoestima do povo negro. Ou seja, letramento racial nenhum. </p> <p class="texto">Eram tempos em que o negro "conhecia o seu lugar", com papéis limitados ao carnaval, ao samba, ao futebol e atuações secundárias em novelas, estigmatizado em versões serviçais, marginais ou, no mínimo, suspeitas. Sim, havia exceções, com alguns destaques em algumas áreas — artes plásticas, cinema, teatro, por exemplo. Havia, aliás, uma espécie de conformismo ou até mesmo falta de visão crítica e de posicionamento político-racial nessa área. Grande parcela da população negra estava apática, apostava no branqueamento e até mesmo negava a existência do racismo. </p> <p class="texto">Trazíamos tais questões, e muitas outras, em nossa primeira edição — já que havia um grande acúmulo de temas a serem tratados. O grupo idealizador, formado por mim, Emílio Chagas, Jorge Freitas, Jeanice Dias Ramos e Vera Daisy Barcellos, jornalistas na maioria, contou também com ativistas e militantes que não eram da imprensa. Foram os casos do poeta e pesquisador Oliveira Silveira, do estudante de sociologia Edílson Nabarro e do militante Valter Carneiro, que trouxeram outras visões para o grupo. Era, na verdade, o embrião de um incipiente movimento negro. Para além da denúncia, a revista também incorporou a reflexão, a análise, o resgate histórico e o protagonismo do negro. E é nesse contexto que afloram as questões do 20 de Novembro, o apagamento do negro na história gaúcha, o racismo no sistema educacional, a abordagem praticamente pioneira das religiões de matriz africana e da política internacional (África), entre muitas outras que extrapolavam o mero jornalismo.</p> <p class="texto">Toda essa movimentação discursiva transformou as reuniões de pautas em verdadeiros debates, muitas vezes tensos e acalorados — e um aumento significativo de participantes que se somavam à equipe. Ou seja, as reuniões de pauta se tornaram espaço de discussão de visões políticas e posições específicas sobre a realidade do negro. Reuniões estas que se prolongavam horas a fio. Isso mostrava que havia muito espaço e uma grande demanda reprimida de discussão racial. É preciso lembrar que vivíamos sob ditadura militar e as disputas de versões políticas eram intensas e multifacetadas. O fato era que existia um alinhamento político (como toda a imprensa alternativa) contra o regime, mas internamente muitas vezes os posicionamentos não confluíam na mesma direção. É bom lembrar que a ideia da revista surgira em 1976/77, levando praticamente quase dois anos para sua concretização (março de 1978), e muito da demora deveu-se à dinâmica exaustiva desse processo. </p> <p class="texto">Eram basicamente duas linhas: uma que via a questão negra dentro de um viés político e outra que defendia a visão racializadora, restrita às questões da especificidade negra, à qual se alinhava, por exemplo, Oliveira Silveira. Ambas, porém, de enfrentamento ao racismo e suas decorrências. Quase 50 anos depois, constatamos que os avanços foram muito poucos. Vemos claramente um avanço na questão do letramento, inexistente na época, do o ao ensino com a Lei de Cotas, (fruto da pressão e da luta negra, certamente), da visibilidade e da autoestima. Mas, os principais vetores fundadores da Tição permanecem. A saber: racismo, exclusão e violência policial. </p> <p class="texto">Constatamos, em síntese, que o racismo ainda está aqui. Mais do que reeditar a <em>Tição,</em> marco histórico na imprensa negra brasileira, num viés comemorativo, notamos que é preciso prosseguir a luta aberta em 1978 porque estruturalmente nada mudou ou se transformou substancialmente. Aqui, na África, nos EUA — avanços e retrocessos, obviamente, em suas especificidades. Resgatar a Tição é só mais um o para o prosseguimento e contribuição com a luta antirracista. <br /></p> <p class="texto"><div class="read-more"> <h4>Saiba Mais</h4> <ul> <li> <a href="/opiniao/2025/04/7114516-so-envelhece-quem-esta-vivo.html"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/04/17/whatsapp_image_2025_04_17_at_19_40_24-49950888.jpeg" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Opinião</strong> <span>Só envelhece quem está vivo </span> </div> </a> </li> <li> <a href="/opiniao/2025/04/7114496-morte-e-vida-de-deus.html"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2024/03/29/290324kk23-35868074.jpg?20250417212602" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Opinião</strong> <span>Morte e vida de Deus</span> </div> </a> </li> <li> <a href="/opiniao/2025/04/7114382-a-resposta-somos-nos.html"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/04/10/_mfs1526-49511527.jpg?20250417172437" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Opinião</strong> <span>A resposta somos nós</span> </div> </a> </li> </ul> </div></p>", "isAccessibleForFree": true, "image": [ "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2022/01/28/1200x800/1_pri_2901_opiniao-7385084.jpg?20241224154938?20241224154938", "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2022/01/28/1000x1000/1_pri_2901_opiniao-7385084.jpg?20241224154938?20241224154938", "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2022/01/28/800x600/1_pri_2901_opiniao-7385084.jpg?20241224154938?20241224154938" ], "author": [ { "@type": "Person", "name": "Opinião", "url": "/autor?termo=opiniao" } ], "publisher": { "logo": { "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fimgs2.correiobraziliense.com.br%2Famp%2Flogo_cb_json.png", "@type": "ImageObject" }, "name": "Correio Braziliense", "@type": "Organization" } }, { "@type": "Organization", "@id": "/#organization", "name": "Correio Braziliense", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "/_conteudo/logo_correo-600x60.png", "@id": "/#organizationLogo" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/correiobraziliense", "https://twitter.com/correiobraziliense.com.br", "https://instagram.com/correio.braziliense", "https://www.youtube.com/@correio.braziliense" ], "Point": { "@type": "Point", "telephone": "+556132141100", "Type": "office" } } ] } { "@context": "http://schema.org", "@graph": [{ "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Início", "url": "/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Cidades DF", "url": "/cidades-df/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Politica", "url": "/politica/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Brasil", "url": "/brasil/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Economia", "url": "/economia/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Mundo", "url": "/mundo/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Diversão e Arte", "url": "/diversao-e-arte/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Ciência e Saúde", "url": "/ciencia-e-saude/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Eu Estudante", "url": "/euestudante/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Concursos", "url": "/euestudante/concursos/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Esportes", "url": "/esportes/" } ] } 5n6u5p

O racismo ainda está aqui 536n3e
Racismo

O racismo ainda está aqui 2o1i7

Quase 50 anos depois do lançamento da revista Tição, constatamos que os avanços foram muito poucos. Os principais vetores fundadores permanecem: racismo, exclusão e violência policial 41j3z

EMÍLIO CHAGAS, editor da revista Tição

Quando criamos a Tição, em 1978, tínhamos alguns eixos centrais que nos motivaram e nortearam os rumos da revista: o movimento Black Power, dos EUA, no fim dos anos 60; as revoluções emancipatórias dos países-colônias da África, Angola, Guiné e Moçambique, em especial; o apartheid; o pensamento "uspiano", da Universidade de São Paulo (USP), notadamente o trabalho de abordagens sociológicas do negro pelo professor Florestan Fernandes; a chamada "imprensa nanica" ou alternativa, com suas dezenas de publicações voltadas para os mais diversos públicos, todas de combate à ditadura militar; e, por fim, a situação do negro brasileiro naqueles anos. Enfrentávamos sistemática perseguição policial, discriminação generalizada, barreiras no mercado de trabalho e no o ao ensino superior, principalmente, e ausência quase que maciça de autoestima do povo negro. Ou seja, letramento racial nenhum. 

Eram tempos em que o negro "conhecia o seu lugar", com papéis limitados ao carnaval, ao samba, ao futebol e atuações secundárias em novelas, estigmatizado em versões serviçais, marginais ou, no mínimo, suspeitas. Sim, havia exceções, com alguns destaques em algumas áreas — artes plásticas, cinema, teatro, por exemplo. Havia, aliás, uma espécie de conformismo ou até mesmo falta de visão crítica e de posicionamento político-racial nessa área. Grande parcela da população negra estava apática, apostava no branqueamento e até mesmo negava a existência do racismo. 

Trazíamos tais questões, e muitas outras, em nossa primeira edição — já que havia um grande acúmulo de temas a serem tratados. O grupo idealizador, formado por mim, Emílio Chagas, Jorge Freitas, Jeanice Dias Ramos e Vera Daisy Barcellos, jornalistas na maioria, contou também com ativistas e militantes que não eram da imprensa. Foram os casos do poeta e pesquisador Oliveira Silveira, do estudante de sociologia Edílson Nabarro e do militante Valter Carneiro, que trouxeram outras visões para o grupo. Era, na verdade, o embrião de um incipiente movimento negro. Para além da denúncia, a revista também incorporou a reflexão, a análise, o resgate histórico e o protagonismo do negro. E é nesse contexto que afloram as questões do 20 de Novembro, o apagamento do negro na história gaúcha, o racismo no sistema educacional, a abordagem praticamente pioneira das religiões de matriz africana e da política internacional (África), entre muitas outras que extrapolavam o mero jornalismo.

Toda essa movimentação discursiva transformou as reuniões de pautas em verdadeiros debates, muitas vezes tensos e acalorados — e um aumento significativo de participantes que se somavam à equipe. Ou seja, as reuniões de pauta se tornaram espaço de discussão de visões políticas e posições específicas sobre a realidade do negro. Reuniões estas que se prolongavam horas a fio. Isso mostrava que havia muito espaço e uma grande demanda reprimida de discussão racial. É preciso lembrar que vivíamos sob ditadura militar e as disputas de versões políticas eram intensas e multifacetadas. O fato era que existia um alinhamento político (como toda a imprensa alternativa) contra o regime, mas internamente muitas vezes os posicionamentos não confluíam na mesma direção. É bom lembrar que a ideia da revista surgira em 1976/77, levando praticamente quase dois anos para sua concretização (março de 1978), e muito da demora deveu-se à dinâmica exaustiva desse processo. 

Eram basicamente duas linhas: uma que via a questão negra dentro de um viés político e outra que defendia a visão racializadora, restrita às questões da especificidade negra, à qual se alinhava, por exemplo, Oliveira Silveira. Ambas, porém, de enfrentamento ao racismo e suas decorrências. Quase 50 anos depois, constatamos que os avanços foram muito poucos. Vemos claramente um avanço na questão do letramento, inexistente na época, do o ao ensino com a Lei de Cotas, (fruto da pressão e da luta negra, certamente), da visibilidade e da autoestima. Mas, os principais vetores fundadores da Tição permanecem. A saber: racismo, exclusão e violência policial. 

Constatamos, em síntese, que o racismo ainda está aqui. Mais do que reeditar a Tição, marco histórico na imprensa negra brasileira, num viés comemorativo, notamos que é preciso prosseguir a luta aberta em 1978 porque estruturalmente nada mudou ou se transformou substancialmente. Aqui, na África, nos EUA — avanços e retrocessos, obviamente, em suas especificidades. Resgatar a Tição é só mais um o para o prosseguimento e contribuição com a luta antirracista. 

Mais Lidas 5f2u28